terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Evo Morales, o índio que calou a Europa.


evo_com_traje_tipico

Evo Morales devia estar mascando coca em cima de um burrito lá na Bolívia e não se meter com gente séria e grande… 
Fiquei muito feliz nesse final de semana, mas muito feliz mesmo, quando uma amiga me trouxe uma carta lida para os países dos líderes europeus por este indiozinho boliviano. Que cara culhudo não? Nem sei se ele é um bom presidente ou um mal presidente. O que ele é de verdade é um sujeitinho danado do esperto. Nunca um professor de história, um catedrático, uma iminência da esquerda internacional, dos democratas, dos defensores de qualquer coisa, tiveram um raciocínio tão brilhante, tão profundo.
Você lê uma verdade colocada de uma forma tão singela, ingênua e espontânea que é chocante, de um humor de alta categoria. O Facebook é inundado com tanto lixo que eu vou reproduzir esta carta aqui para que vocês inundem o Facebook com uma carta maravilhosa, independente de se o cara é de direita ou de esquerda.
Eu acho que neste momento o indiozinho encarou Victor Jara, Atahualpa, Tupac Amaru, Che Guevara, Simon Bolivar, Tiradentes, Mercedes Sosa, gente do mais alto quilate. 
Gente digna de uma humanidade. Obrigado por este lindo momento inspirador. Nunca dei um tostão furado por esta figura. Subiu-me profundamente o seu conceito como pessoa, ser humano, de uma inteligência incrível. 
Obrigadão, Evo Morales! Nos meus próximos grupos na Europa vou abrir lendo a sua carta. Eu já fazia essa brincadeira em Portugal, onde eu dizia que estava lá para cobrar as pensões de um monte de filhos que os portugueses deixaram lá e não pagaram. Leia!
E se tua mente ainda tiver um pouquinho de luz, você vai se encantar:
”Aqui eu, Evo Morales, vim encontrar aqueles que participam da reunião.
Aqui eu, descendente dos que povoaram a América há quarenta mil anos, vim encontrar os que a encontraram há somente quinhentos anos.
Aqui pois, nos encontramos todos. Sabemos o que somos, e é o bastante. Nunca pretendemos outra coisa.
O irmão aduaneiro europeu me pede papel escrito com visto para poder descobrir aos que me descobriram. 
O irmão usurário europeu me pede o pagamento de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei a vender-me.
O irmão rábula europeu me explica que toda dívida se paga com bens ainda que seja vendendo seres humanos e países inteiros sem pedir-lhes consentimento. 
Eu os vou descobrindo. Também posso reclamar pagamentos e também posso reclamar juros. Consta no Archivo de Indias, papel sobre papel, recibo sobre recibo e assinatura sobre assinatura, que somente entre os anos 1503 e 1660 chegaram a San Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América.
Saque? Não acredito! Porque seria pensar que os irmãos cristãos pecaram em seu Sétimo Mandamento.
Expoliação? Guarde-me Tanatzin de que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue de seu irmão!
Genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomé de las Casas, que qualificam o encontro como de destruição das Indias, ou a radicais como Arturo Uslar Pietri, que afirma que o avanço do capitalismo e da atual civilização europeia se deve à inundação de metais preciosos!
Não! Esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata devem ser considerados como o primeiro de muitos outros empréstimos amigáveis da América, destinado ao desenvolvimento da Europa. O contrário seria presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito não só de exigir a devolução imediata, mas também a indenização pelas destruições e prejuízos. Não
Eu, Evo Morales, prefiro pensar na menos ofensiva destas hipóteses.
Tão fabulosa exportação de capitais não foram mais que o início de um plano ‘MARSHALLTESUMA’, para garantir a reconstrução da bárbara Europa, arruinada por suas deploráveis guerras contra os cultos muçulmanos, criadores da álgebra, da poligamia, do banho cotidiano e outras conquistas da civilização.
Por isso, ao celebrar o Quinto Centenário do Empréstimo, poderemos perguntar-nos: Os irmãos europeus fizeram uso racional, responsável ou pelo menos produtivo dos fundos tão generosamente adiantados pelo Fundo Indoamericano Internacional? Lastimamos dizer que não. 
Estrategicamente, o dilapidaram nas batalhas de Lepanto, em armadas invencíveis, em terceiros reichs e outras formas de extermínio mútuo, sem outro destino que terminar ocupados pelas tropas gringas da OTAN, como no Panamá, mas sem canal. 
Financeiramente, têm sido incapazes, depois de uma moratória de 500 anos, tanto de cancelar o capital e seus fundos, quanto de tornarem-se independentes das rendas líquidas, das matérias primas e da energia barata que lhes exporta e provê todo o Terceiro Mundo. 
Este deplorável quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman segundo a qual uma economia subsidiada jamais pode funcionar e nos obriga a reclamar-lhes, para seu próprio bem, o pagamento do capital e os juros que, tão generosamente temos demorado todos estes séculos em cobrar. 
Ao dizer isto, esclarecemos que não nos rebaixaremos a cobrar de nossos irmãos europeus as vis e sanguinárias taxas de 20 e até 30 por cento de juros, que os irmãos europeus cobram dos povos do Terceiro Mundo. Nos limitaremos a exigir a devolução dos metais preciosos adiantados, mais o módico juros fixo de 10 por cento, acumulado somente durante os últimos 300 anos, com 200 anos de graça.
Sobre esta base, e aplicando a fórmula europeia de juros compostos, informamos aos descobridores que nos devem, como primeiro pagamento de sua dívida, uma massa de 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, ambos valores elevados à potência de 300. Isto é, um número para cuja expressão total, seriam necessários mais de 300 algarismos, e que supera amplamente o peso total do planeta Terra.
Muito pesados são esses blocos de ouro e prata. Quanto pesariam, calculados em sangue?
Alegar que a Europa, em meio milênio, não pode gerar riquezas suficientes para cancelar esse módico juro, seria tanto como admitir seu absoluto fracasso financeiro e/ou a demencial irracionalidade das bases do capitalismo.
Tais questões metafísicas, desde logo, não inquietam os indoamericanos. Mas exigimos sim a assinatura de uma Carta de Intenção que discipline os povos devedores do Velho Continente, e que os obrigue a cumprir seus compromissos mediante uma privatização ou reconversão da Europa, que permita que a nos entregue inteira, como primeiro pagamento da dívida histórica.
Aqui eu, Evo Morales, vim encontrar aqueles que participam da reunião".

Nome de Leonel Brizola é inscrito no Livro dos Hérois da Pátria, através da Lei nº 13.229 de 28 de dezembro de 2015. Um justo reconhecimento.



Inscreve o nome de Leonel de Moura Brizola no Livro dos Heróis da Pátria e altera a Lei no 11.597, de 29 de novembro de 2007.
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o  Será inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, que se encontra no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília, Distrito Federal, o nome de Leonel de Moura Brizola.
Art. 2o  O caput do art. 2o da Lei no 11.597, de 29 de novembro de 2007, passa a vigorar com a seguinte redação:
Art. 2o  A distinção será prestada mediante a edição de lei, decorridos 10 (dez) anos da morte ou da presunção de morte do homenageado.
............................................................................................” (NR)
Art. 3o  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 28 de dezembro de 2015; 194o da Independência e 127o da República.
DILMA ROUSSEFF

José Eduardo Cardozo

João Luiz Silva Ferreira

Este texto não substitui o publicado no DOU de 29.12.2015 
*







Bancada na Câmara Federal se mostrou a melhor das últimas décadas, uma análise de Ribamar Corrêa.

A atual bancada do Maranhão na Câmara Federal é das melhores – se não a melhor – deste século e, sem nenhum favor, das últimas décadas. Incluindo as últimas do século passado. Sem nenhum nome excepcional – excetuando o deputado Sarney Filho (PV) pelos oito mandatos consecutivos e pela regularidade desse período -, os deputados federais maranhenses eleitos em 2014 são atuantes, tanto os que integram a base do governo, como o destacado Rubens Jr. (PCdoB), quanto os que militam “de acordo com a maré” e os posicionados firmemente na oposição. 

Quando necessário, funcionaram como bancada para pressionar a Esplanada dos Ministérios, sob a firme e tarimbada orientação do deputado Pedro Fernandes (PTB), ou como na base do “cada um por si”, como a aventura do deputado Weverton Rocha (PDT), que se licenciou por quatro meses para salvar a reputação da suplente Rosângela Curado. 

Os deputados maranhenses, em maior ou menor grau, estão envolvidos na guerra do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), bem como no movimento que quer a cabeça do presidente da Casa, o indefectível deputado fluminense Eduardo Cunha (PMDB); também atuam nos bastidores, tentam legislar com projetos em tramitação e fazem as vezes de representantes pressionando por verbas, emendas e obras para o estado. A Coluna buscou informações e chegou à seguinte avaliação de cada um:

ze carlos do pt
Zé Carlos (PT) – Chegou à Câmara Federal embalado por um bom mandato de deputado estadual e manteve o ritmo. Desde logo se embrenhou na bancada do PT, atuando muitas vezes com mais empenho do que petistas conhecidos. 
Durante o ano fez 12 discursos, todos com pé e cabeça, enfocando problemas do Maranhão, a crise econômica nacional, os programas relacionados com habitação popular – que é seu mote principal -, travou embate com um deputado sulista, Valdir Colatto, que falara em separação das duas regiões, atuou nas comissões técnicas e participou de 110 sessões deliberativas. 
Na guerra política, foi um dos petistas que assinou o pedido de cassação do presidente Eduardo Cunha e participou ativamente de todas as ações do partido a favor do governo e da presidente Dilma Rousseff. Para um observador, saiu-se melhor do que muitos petistas mais conhecidos no cenário nacional.


sarney filho 7

Sarney Filho (PV) – Um dos cardeais da Câmara, é, de longe, o mais experiente e um dos mais atuantes deputados federais do Maranhão, que participa de todos os momentos da Casa, tanto no campo legislativo quanto no político.  
Fez 115 pronunciamentos durante o ano, a maioria deles defendendo ou criticando situações relacionadas com o meio ambiente, intensificando a sua condição de líder do Partido Verde na Casa. Participou de 109 sessões deliberativas. 
Atuou como articulador na guerra política como aliado do Palácio do Planalto contra a tentativa de destituição da presidente Dilma Rousseff, que considera um movimento politicamente sem base. Teve atuação forte na defesa de correções para o Código Ambiental e participou ativamente da reforma política. Repetiu o bom desempenho de outros anos.

Leia à análise do blogueiro Ribamar Corrêa sobre o desempenho dos integrantes da Bancada Federal Maranhense: http://reportertempo.com.br/sem-estrelas-e-com-jovens-motivados-bancada-na-camara-federal-se-mostrou-a-melhor-das-ultimas-decadas/

67 jornalistas morreram no exercício da profissão em 2015, afirma Repórteres sem Fronteiras.

Da Agência Lusa
Sessenta e sete jornalistas foram mortos em todo o mundo em 2015 no exercício da profissão, de uma lista de 110 profissionais que perderam a vida em circunstâncias pouco claras, segundo balanço divulgado hoje (29) pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

Os dados mostram que, além desses, também morreram 27 blogueiros e outros sete colaboradores de meios de comunicação social, elevando para 787 o número de profissionais de comunicação mortos na última década.


O Iraque teve o maior número de jornalistas mortos em 2015 (nove confirmados de 11 possíveis), seguido da Síria (nove confirmados de dez possíveis), ambos palco de conflitos armados e com a presença do grupo extremista Estado Islâmico (EI). 

A França subiu ao terceiro lugar (oito vítimas), após o atentado terrorista contra a redação do jornal satírico Charlie Hebdo, em 7 de janeiro. A lista negra segue com o Iémen, o Sudão do Sul, a Índia e o México.

Ao contrário do que aconteceu em 2014, a maioria das vítimas neste ano era jornalista local (97%) que trabalhava fora de zonas de conflito (64%). No ano passado, a maior parte dos 66 jornalistas mortos foi assassinada em áreas de guerra. “É fundamental adotar um mecanismo concreto para a aplicação do direito internacional sobre a proteção dos jornalistas”, declarou o secretário-geral da organização, Christophe Deloire. Neste sentido, considera fundamental que as Nações Unidas designem um “representante especial” para a proteção dos jornalistas.


A Repórteres Sem Fronteiras também recordou que dois dos jornalistas assassinados este ano são mulheres: a francesa Elsa Cayat (que morreu no ataque jihadista contra o Charlie Hebdo), e a somali Hindia Mohamed, vítima da explosão de um carro bomba pela milícia Shebab, no dia 3 de dezembro.

Dados da RSF divulgados há duas semanas indicam ainda que neste ano 54 jornalistas foram sequestrados – alta de 34% na comparação com 2014; e 153 presos – queda de 14% na comparação com o ano anterior.

Os reféns encontram-se na Síria (26), Iémen (13), Iraque (10) e Líbia (5); enquanto os presos estão sobretudo na China (23), no Egito (22), Irã (18) e na Turquia (9). Os 66 restantes estão presos pelo resto do mundo.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Curitiba - Grupo de jovens joga gasolina e ateia fogo em travesti.



Uma travesti de 37 anos foi covardemente atacada por um grupo de jovens, na madrugada deste domingo (27), em Curitiba. 
A vítima estava na Avenida Victor Ferreira do Amaral, esquina com Rua Paulo Kissula, no Capão da Imbuia e foi abordada por ocupantes de um carro, que desceram do veículo, jogaram gasolina em seu corpo e depois atearam fogo.
Com queimaduras por todo o corpo, a travesti foi socorrida pelo Siate e encaminhada em estado grave ao Hospital Evangélico. De acordo com a assessoria de imprensa do hospital, Elias da Silva Correa teve queimaduras de segundo e terceiro graus. Na manhã desta segunda-feira (28), o estado de saúde da vítima era estável. Elias deverá passar por cirurgia hoje ou na terça-feira (29).

domingo, 27 de dezembro de 2015

O fundamentalismo de mercado e o jovem fascismo brasileiro.

Luis Fernando Novoa Garzon.

Houve tempo em que a ideia de infinitude parecia libertadora, hoje a incerteza é a própria escala do pavor. Frente à regressividade das crises crônicas do capitalismo e os efeitos de sua internacionalização desregulada, predominam a dúvida e o receio. 

O retorno a si mesmo, a auto-afirmação e a manutenção da ordem a qualquer preço, surgem como se fossem respostas automáticas. O fundamentalismo não é um fenômeno exclusivamente religioso, muito menos um fenômeno vinculado a determinadas confissões religiosas. 

Que o digam as exuberantes demonstrações exuberantes de fascismo social, ou seja, de humilhação, preconceito e escárnio contra os inassimiláveis - que multiplicam-se no Brasil, em manifestações nas ruas, nas redes sociais, nas escolas e nos locais de trabalho.

A resposta pronta ao pânico moral induzido é a “proteção da família” e, por decorrência, da propriedade. A lógica da culpabilização e punição dos estigmatizáveis se propaga por meio de propostas de redução da maioridade penal, de adoção de procedimentos de reorientação de opção sexual, prisão ou internação forçada de usuários de drogas e de criminalização do protesto social.
Contemporizar com tais práticas significa chocar ovos de serpente. É quando a preparação já é o próprio ato em si. 

Quando fazemos de conta que não é conosco, e deixamos por isso mesmo o pisoteamento dos valores civilizatórios mais cruciais, a vil insolência do endinheirado se normaliza em “atitude”. Orgulho escancarado de não possuir qualidades. Zoação ou bulling moral como método de ascensão simbólica e material. Quem se desclassifica serve de gozo e deboche. O mundo é - e sempre foi - cruel, dizem. Ser piegas vai servir de que nessa hora, perguntam.


Um particularismo robustecido vai ganhando contorno entre os “insiders” que cedo entendem o significado de sua inclusão. Exaltação de sua condição vitoriosa superior como resposta à crítica sistêmica. Diferenciação e auto-afirmação realizadas no exaurir de coisas, de culturas e de pessoas. Morais parciais e orientações ambíguas ensinam a autenticidade na direção contrária. 

Sem vergonha de rapinar o outro, de lhe meter as unhas, no peito se preciso for. Orfandade de projetos existenciais é a pior orfandade. Nenhuma memória ou herança cultural é reconhecida. Por isso, as novas gerações das elites privilegiadas vão além da indiferença.

Um exemplo singelo: por que o agronegócio não assume os riscos e danos intrínsecos a seu processo de produção? Deveriam dar o exemplo a partir do mais elementar. Por que não vedar o uso de agrotóxicos, de hormônios e de transgênicos em qualquer tipo de alimento infantil? Vejam como o agronegócio brasileiro, associado às multinacionais, torna atual a bandeira abolicionista da lei do ventre livre. Nossas crianças não podem ficar livres dos venenos que as próprias elites já não mais admitem em seu cardápio “orgânico” e em seu cotidiano “no stress”.

A marca Brasil, nesses termos, convém não só para os serviços de turismo e megaeventos. Mais que um logo, trata-se de uma composição anestésica, irradiando cinicamente sociodiversidade e biodiversidade, enquanto se intensificam processos de expropriação que justamente eliminam esses componentes. Sem que seja necessário olhar para trás ou voltar o rosto para outros horizontes possíveis que não os da capitalização sumária de todos os recursos territoriais, paisagísticos e humanos contidos no país.

O Deputado Federal Jair Bolsonaro e demais seguidores da “bancada da bala” expressam o novo lugar a que foram alçados os jagunços dos grandes grupos econômicos. Basta conferir a posição inarredável de Cunha para entender a extensão da máfia que detém a maioria parlamentar no país. 

São os que explicitam as razões do fundamentalismo de mercado, os demarcadores do que seja constitucional, em outros termos, do que seja constitutivo do expansionismo e segregacionismo das frações dominantes no capitalismo brasileiro. Por isso, expor a fissura entre aparência e essência, expor a farsa da nação centenária e dissimuladamente sabotada, é um dever cotidiano.

Luis Fernando Novoa Garzon é Sociólogo, doutor em planejamento urbano e regional - Contato: l.novoa@uol.com.br

Carta de George Orwell revela as motivações para ter escrito o Romance "1984”.

Posted by: 
George_Orwell_1984No ano de 1944, três anos antes de escrever e cinco antes de publicar “1984”, George Orwell escreveu uma carta a Noel Willmett, falando abertamente de seus sentimentos em relação ao mundo moderno em que vivia. 
Em meio aos escritos contidos nesta, podemos identificar muitos elementos chave que aparecem em “1984”. A carta foi retirada do livro “George Orwell: A Life in Letters” uma compilação das correspondências pessoais do escritor.
Orwell alertava sobre nacionalismos, culto aos líderes, e a possibilidade do surgimento de Estados totalitários capazes de dizer que “dois e dois são cinco”. Tal carta pode nos colocar muito mais próximos do autor, que em 1944 já sabia que um dia seríamos monitorados/as.
“Para Noel Willmett
18 de Maio de 1944
10a Mortimer Crescent NW 6
Caro Sr. Willmett,
Muito obrigado por sua carta. Você questiona se o totalitarismo, o culto a um líder, etc, estão realmente em progressão e usa como exemplo o fato de que eles não estão aparentemente crescendo neste país e nem nos EUA.
Devo dizer que acredito, ou temo, que tomando o mundo como um todo, essas coisas estão a crescer. Hitler, sem dúvida, irá desaparecer em breve, mas apenas à custa do fortalecimento de: (a) Stalin, (b) os milionários anglo-americanos e (c) os tipos de Fuhrers mesquinhos no nível de De Gaulle. 
Todos os movimentos nacionais em todos os lugares, até mesmo aqueles que se originam na resistência à dominação alemã, parecem tomar formas não-democráticas para ficar em torno de alguns Fuhrers sobre-humanos (Hitler, Stalin, Salazar, Franco, Gandhi e De Valera são exemplos variados) e a adotar a teoria de que o fim justifica os meios. 
Em todos os lugares, o movimento do mundo parece ser na direção das economias centralizadas que podem ser feitas para “trabalhar” em um sentido econômico, mas que não são democraticamente organizadas e que tendem a estabelecer um sistema de castas. 
Com isso vem os horrores do nacionalismo emotivo e uma tendência para não acreditar na existência de uma verdade objetiva, porque todos os fatos devem se encaixar nas palavras e profecias infalíveis de algum Fuhrer. A história, em algum sentido, já deixou de existir. 
Não existe tal coisa como uma história dos nossos tempos que poderia ser universalmente aceita, e as ciências exatas estão ameaçadas de extinção no momento em que se tenha necessidade de militar para colocar as pessoas de volta em seus lugares. 
Hitler diz que os judeus começaram a guerra, e que se ele sobreviver, isso se tornará a história oficial. Ele não pode dizer que dois e dois são cinco, porque, para os fins de, digamos, balística, tem que ser quatro. 
Mas se o tipo de mundo que receio chegar – um mundo de dois ou três grandes superestados que são incapazes de conquistar um ao outro – dois e dois podem se tornar cinco se o Fuhrer desejar. Isso, tanto quanto posso ver, é o rumo em que o globo vem tomando efetivamente – apesar de, é claro, o processo ser reversível.
Quanto à imunidade comparativa da Grã-Bretanha e dos EUA, o que quer que os pacifistas, etc, possam dizer, nós não nos tornamos totalitários ainda e isso é um sintoma muito esperançoso. 
Acredito profundamente – como expliquei em meu livro “The Lion and the Unicorn” – no povo inglês e em sua capacidade de centralizar sua economia sem destruir a liberdade ao fazê-lo. Mas é preciso lembrar que a Grã-Bretanha e os EUA não foram realmente tentados, não conheceram a derrota ou o sofrimento grave e há alguns sintomas ruins para equilibrar os bons. 
Para começar, há uma indiferença geral em relação à decadência da democracia. Você percebe, por exemplo, que agora ninguém na Inglaterra com menos de 26 anos tem direito ao voto e que até onde se pode ver, a grande maioria nessa idade não dá a mínima para isso? 
Em segundo lugar, há o fato de que os intelectuais são mais totalitários na perspectiva do que as pessoas comuns. No geral, a intelligentsia inglesa se opôs a Hitler, mas com o preço de aceitar Stalin. A maioria deles estão perfeitamente prontos para métodos ditatoriais, polícia secreta, falsificação sistemática da história, etc, desde que eles achem que é no “nosso” lado. 
Na verdade, a afirmação de que não temos um movimento fascista na Inglaterra, em grande parte, significa que o jovem neste momento vê seu Fuhrer em outro lugar. 
Não se pode ter certeza de que isso não vai mudar, nem se pode ter certeza de que as pessoas comuns não vão pensar daqui a dez anos como os intelectuais de agora. Espero que não, eu mesmo confiaria que não, mas se assim for, será à custa de luta. Se alguém simplesmente proclama que tudo é para o melhor e não aponta para os sintomas sinistros, este alguém está apenas ajudando a trazer o totalitarismo para perto.
Você também pergunta: se eu acho que a tendência mundial é na direção do fascismo, por que eu apoiaria a guerra? É uma escolha entre males – imagino que quase todas as guerras sejam assim. 
Eu sei o suficiente sobre imperialismo britânico para não gostar, mas gostaria de apoiá-lo contra o nazismo ou o imperialismo japonês, como o mal menor. Da mesma forma que eu iria apoiar a URSS contra a Alemanha, porque acho que a URSS não pode escapar completamente de seu passado e mantém bastante as ideias originais da Revolução para torná-la um fenômeno mais esperançoso do que a Alemanha nazista. Eu acho – e tenho pensado nisso desde o início da guerra, em 1936 ou por aí – que a nossa causa é a melhor, mas temos que continuar a fazê-la a melhor, o que envolve críticas constantes.
Atenciosamente,
Geo. Orwell
[XVI, 2471, pp 190-2; datilografado]”
fonte: http://literatortura.com.