domingo, 2 de março de 2014

Batalha da Ucrânia: E.U.A. derrotam e humilham a Rússia?

ESCRITO POR RAMEZ PHILIPPE MAALOUF

Os EUA são a maior potência militar e econômica do mundo. Seu orçamento militar alcança a cifra oficial de US$ 700 bilhões (o maior do planeta, equivalente à soma dos subsequentes 14 maiores orçamentos militares nacionais) e têm mais de 860 bases militares espalhadas ao redor do globo, o que o torna vizinho de quase todos os países de todos os continentes.

Por meio destas bases militares, cercam alguns dos maiores Estados do mundo (Rússia, China, Brasil e Índia) e mantêm a humanidade sitiada. São, portanto, um poder militar inigualável.

De acordo com a mitologia de sua fundação, ainda no século XVIII, os EUA são o povo eleito por Deus com o propósito de submeter/subjugar/dominar a Humanidade. Desde o século XIX, sua classe/casta racial dirigente de proprietários brancos anglo-saxões protestantes (hoje, pós-protestantes) compreende que dominar o mundo é dominar a Ásia. 

Para isto, é necessário impedir o surgimento de qualquer coalizão de nações na Ásia ou que unisse a Europa à Ásia. Desta forma, a nação eurasiática por excelência, a Rússia, passou a ser vista pelo “povo eleito”, em decorrência do seu peso demográfico, localização geográfica, recursos humanos e minerais, como o maior obstáculo para a consecução da missão conferida por Deus. 

Segundo o geopolítico e ex-secretário de Estado do governo Richard Nixon (1969-74), Henry Kissinger, os EUA devem considerar a Rússia como inimigo independentemente das cores ideológicas de quem governe os russos.

Desde 1943, o geógrafo holandês-americano Nicholas Spykman afirmou que para dominar a Ásia era preciso conquistar as suas fímbrias, visando encurralar a Rússia (transmutada em União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS, a partir da Revolução de 1917), a fortaleza inexpugnável do poder terrestre. 

Com a desintegração da URSS, em 1991, configurando-se numa vitória da geoestratégia spykmaniana, segundo o falecido politólogo britânico Peter Gowan, a nova geoestratégia de contenção ianque da Rússia tinha como objetivo retirar a ex-república soviética da Ucrânia da esfera de influência russa, confinando a Federação Russa na Ásia. 

Ucrânia é o país de onde se originou o Estado russo. Portanto, desde 1991, os EUA estão se imiscuindo na política ucraniana para impedir qualquer manifestação de aproximação entre as duas ex-repúblicas soviéticas.

Uma das consequências desta intervenção foi a adoção de uma política econômica ultra-liberal, que esgarçou o tecido social ucraniano. 

Além desindustrializar o país eslavo e gerar altas taxas de desemprego, especialmente entre os jovens, o neoliberalismo na Ucrânia favoreceu o surgimento de grupos mafiosos que se apossaram do Estado. 

O resultado mais grave deste colapso civilizatório promovido pelos EUA e as políticas neoliberais na antiga república soviética foi e continua sendo a queda populacional sem precedentes na História recente a Europa. 

Em 1991, na época do colapso soviético, havia 52 milhões de ucranianos no país eslavo, enquanto que, no ano de 2013, a cifra foi reduzida para 45 milhões de pessoas.

A permanente intervenção ianque nos assuntos ucranianos não parou com a queda demográfica, sintoma do colapso civilizatório. Os EUA financiaram e promoveram a “Revolução Laranja” de 2004, eclodida em Kiev (capital da Ucrânia), uma versão atualizada da “Marcha da família com Deus pela Liberdade”, que deu a senha para o golpe civil-militar de 1964 no Brasil, patrocinado pelos EUA e Canadá. 

A “revolução colorida” ucraniana (outras “eclodiram” na antiga Iugoslávia, em 2000, na Geórgia, em 2003, no Quirguistão e no Líbano, em 2005, todas patrocinadas pela CIA) foi uma “mobilização popular” com o objetivo de levar à presidência Victor Yushchenko, liberal pró-Ocidente, em detrimento de Victor Yanukovich, considerado um liberal pró-Rússia. 

O primeiro mandato de Yanucovich como primeiro-ministro (2002 – 2004) foi marcado pela adesão da Ucrânia à coalizão pró-invasão anglo-americana do Iraque em 2003. Mesmo assim, Yanukovich foi rechaçado pela “revolução” e não conseguiu ser eleito presidente em 2005, perdendo para o rival Yushchenko, que governou o país até 2010.

Em 2010, foi a vez de Yanukovich ser eleito para a presidência. Em novembro de 2013, o então presidente ucraniano se recusou a assinar um acordo de “livre comércio” com a União Europeia (EU), preferindo um acordo com a Rússia, onde o presidente russo Vladimir Putin acenou com um empréstimo de US$ 15 bilhões, acendendo a “revolta popular”. 

Em pouco tempo, “oposicionistas” de Yanukovich tomaram praças e prédios do governo rejeitando a aproximação com a Rússia. Em pouco tempo também revelou-se que tal insurreição popular nada tinha de espontânea, muitos dos manifestantes formaram bandos armados, com fortes suspeitas de receberem instruções de embaixadas ocidentais, especialmente dos EUA. 

Há vários informes de que os ianques gastavam US$ 20 milhões semanalmente com a “oposição”. Os manifestantes agrediram e acuaram a polícia na praça da Independência em Kiev, enquanto as forças armadas, uma das maiores da Europa, não se manifestaram em momento algum.

Segundo a imprensa ocidental, o povo ucraniano é favorável à entrada do país na UE, vista como uma garantidora da paz, da prosperidade, da democracia e da liberdade (não se mencionou a profunda crise econômica decorrente do neoliberalismo imposto pela UE à periferia da Europa). 

Nada se falou também da violência que grupos armados nazistas e antissemitas anti-Rússia promoviam contra a população russa do país (uma “minoria” nada desprezível de mais de 8 milhões de pessoas, correspondendo a cerca de 18% da população do país). 

Na verdade, a chamada oposição a Yanukovich era formada por uma heterodoxa coalizão compreendendo nazistas (oriundos da II Guerra Mundial), movimento “gay”, liberais, católicos e trotskistas. Tal concertação política paradoxal só poderia ser fruto de uma ingerência internacional. 

A intervenção dos EUA foi tão acintosa que sequer levou em consideração seus parceiros europeus, a ponto de uma diplomata enviada a Kiev expressar seu desprezo pela UE com palavras chulas (“foda-se U.E!”).

O desabafo nada polido da diplomata Victoria Nuland desmascarou a farsa da suposta “revolução popular” em curso na Ucrânia. Não se tratava de um mero golpe de Estado para depor um presidente pró-Moscou, tratava-se de uma geoestratégia para implodir a Ucrânia para retirá-la de uma vez por todas da órbita russa. Washington D.C. não está preocupado com a adesão ou não da Ucrânia à UE. 

Sendo assim, uma guerra civil aberta ou uma divisão territorial ou a formação de um governo pró-Ocidente na Ucrânia nada mais do que consolida um poder norte-americano na fronteira com a Rússia, a meros 750 km de Moscou, o que de fato acabou ocorrendo com a deposição de todo o governo de Yanukovich, no final de fevereiro de 2014. 

Desta forma, com o golpe de Estado em Kiev, os EUA neutralizaram as vitórias russas na Geórgia, em 2008, e na Síria, em 2013, de forma humilhante, uma vez que Putin (um ex-chefe do serviço secreto russo) não reagiu em momento algum diante da permanente ingerência estrangeira no país vizinho desde a queda da URSS, colocando em risco a população russa.

Certamente, a desestabilização da Ucrânia foi o trunfo que os EUA guardavam na manga quando emperraram as negociações da Segunda Conferência de Genebra (final de janeiro de 2014) visando a suposta paz na Síria, barrando até mesmo a participação do Irã nas negociações. 

Com a vitória na Ucrânia, o ditador dos EUA Barack Obama (que governa sob as leis de exceção do “Ato Patriótico” em vigência desde 2001) pode também neutralizar a fúria dos republicanos em decorrência da derrota na Síria, em setembro de 2013.

No momento, os EUA estão promovendo ao redor do mundo vários processos de golpes de Estado/mudanças de regime camuflados como “revoltas populares”: Venezuela, Bósnia, Síria e Tailândia, numa clara demonstração de que a “nação eleita por Deus” não recuará de sua missão sagrada. 

O espectro de um novo “roll-back” se lança sobre o mundo. Fortalecidos na fronteira com a Rússia, assegura-se aos EUA os planos para a limpeza étnica dos palestinos na Faixa de Gaza, dos muçulmanos xiitas no Líbano, dos cristãos na Síria, que pode ser balcanizada.

Prossegue ainda a guerra no Paquistão e a possível balcanização do país, assim como se aumenta o cerco à Armênia, a desestabilização do Iraque e a pressão para uma guerra ao Irã.

Tais são as consequências mais imediatas e graves da incapacidade de Putin de prever e reagir ao ataque ianque à Ucrânia e à Rússia, um duro golpe à geoestratégia eurasianista da elite russa, também liberal. 

Uma sombra negra volta a ser lançada sobre o mundo: o totalitarismo liberal promovido pelo supremo poder dos EUA e a sua promessa de uma III Guerra Mundial aberta e nuclear.

Leia também:

Ramez Philippe Maalouf é historiador e doutorando em Geografia Humana pela USP.

Rússia pretende instalar bases militares em Cuba, Venezuela, Nicarágua e Vietnã.

SEGUNDO O TITULAR DA DEFESA DO KREMLIN, NEGOCIAÇÕES JÁ ESTÃO AVANÇADAS E INCLUEM OUTROS PAÍSES


Sergei Shoigu e Putin
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O ministro da Defesa da Rússia, Serguei Shoigu, afirmou nesta quarta-feira (26) que o país já tem “negociações avançadas” para a instalação de bases militares em países como Cuba, Venezuela, Nicarágua e Vietnã. A declaração foi dada horas depois do início de um exercício militar russo na região de fronteira com a Ucrânia.

“As conversas estão em andamento e estamos muito perto de assinar os documentos relativos (à instalação das bases)”, disse Shoigu, segundo a agência russa Ria-Novosti. 

O Kremlin teria a intenção de aumentar sua presença permanente ao redor do mundo. A Rússia já mantém uma base militar em Tartous, na Síria.

Mais cedo, o ministro havia confirmado o início de um exercício militar de grande escala, por ordem do presidente russo, Vladimir Putin. 
A manobra inclui cerca de 150 mil homens do Comando Estratégico Conjunto do Oeste, região militar que abrange grande parte da fronteira do país com a Ucrânia.
Shoigu negou qualquer relação do exercício com a crise que provoca apreensão no país vizinho. Nesta quarta-feira, na Crimeia, manifestantes favoráveis à permanência da Ucrânia sob a esfera de influência russa entraram em confronto com centenas de apoiadores da “revolução” que derrubou o presidente Viktor Yanukovich durante o fim de semana.

Venezuela Guiana
FONTE: Estadao.com

Nau capitânia da Marinha Ucrâniana desobedece ordens de Kiev e se une a Marinha Russa.

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Tradução e adaptação: E.M.Pinto
A Nau Capitânia  da Marinha da Ucrânia, a fragata Hetman Sahaidachny, classe Krivak, recusou-se a seguir as ordens de Kiev e passou para o lado de Rússia. 
O Navio está retornando para casa depois de participar de uma operação conjunta com a OTAN no Golfo de Aden, no mastro o navio agora exibe estandarte da Marinha Russa.
As informações sobre sua posição são conflitantes, mas um senador russo confirmou ao Diário Izvestia que a fragata desertou para o lado russo.
Ao informar que a Faragata estaria tomando o seu caminho de volta para o mar Negro após exercícios no Mediterrâneo, o senador confirmou que a tripulação cumpriu as ordens do comandante-chefe das forças armadas da Ucrânia Viktor Yanukovich, acrescentou.
O movimento vem após o comando da Marinha demitir nesta última sexta-feira o Almirante Aleksandr Turchinov substituindo-o pelo almirante Denis Berezovsky o novo chefe da marinha, a informação foi publicada  no site do presidente interino neste sábado.
Arseniy Yatsenyuk, o primeiro-ministro da Ucrânia já havia solicitado o seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan para não deixar a fragata passar através do estreito de Bósforo, de acordo com o Kiev Times. O capitão do navio e o chefe do contingente da Ucrânia na operação, o contra-almirante Andrey Tarasov desobedeceu as ordens de Kiev.
O Hetman Sahaidachny retorna à base naval de Sevastopol na Crimea depois de participar de uma operação de combate à pirataria em conjunto com a OTAN  e a União Européia ao largo do chifre da África, informou nesta sexta-feira a UNN, citando o Ministério da Defesa da Ucrânia. 
Em 26 de fevereiro, depois de atravessar o Canal de Suez, o navio entrou no mar Mediterrâneo e era esperado aportar  em Sevastopol no início de março.

sábado, 1 de março de 2014

Massacre na China mata 27 pessoas e fere mais 109.

Este sábado, em uma estação ferroviária da cidade chinesa de Kunming (província sudoeste de Yunnan) morreram 27 pessoas e mais de 109 ficaram feridas na sequência de um ataque armado, notifica a mídia local.

O incidente ocorreu à tarde, junto às bilheterias. Um grupo de desconhecidos, vestidos roupas iguais e armados com facas, entraram no prédio da estação e começaram a esfaquear pessoas. 

Fotos postadas na Internet mostram os corpos das vítimas, os médicos estão ajudando os feridos.

Mais de 10 carros de polícia chegaram ao local da tragédia. Já se iniciou a investigação do acidente.

Link original desta Matéria: 

Ucrânia: Conselho da Federação autoriza uso das Forças Armadas russas na Criméia.


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Este sábado, o Conselho da Federação (câmara alta do parlamento russo) deu resposta positiva ao presidente Vladimir Putin em relação a seu pedido de permitir o uso das Forças Armadas da Federação Russa no território da Ucrânia para a normalização da situação política no país.

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Putin pede ao Conselho da Federação para permitir uso das Forças Armadas na Crimeia

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O presidente russo, Vladimir Putin, pediu ao Conselho da Federação (câmara alta do parlamento russo) para permitir o uso das Forças Armadas da Rússia na Crimeia.

Antes disso, a presidente do Conselho da Federação da Rússia, Valentina Matvienko, declarou que não exclui a entrada das tropas de fronteira russas na Ucrânia.

Matvienko havia declarado recentemente que a Rússia não deve interferir nos assuntos soberanos da Ucrânia.

UCRÂNIA: Diplomacia Norte-americana com a corda e o nó no pescoço.

28/2/2014, [*] Nikolai BobkinStrategic Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Casa Branca por Matteo Bertelli
A Casa Branca resolveu que a Ucrânia entrará num período de transição, embora não se saiba para onde, exatamente, caminha o país. O presidente Obama prometeu cooperar com todos os partidos, sem ter sequer ideia do que, exatamente, estava dizendo.

Não se sabe, sequer, quem ganhou e quem perdeu, por efeito da intervenção norte-americana, mas o massacre pelo qual está passando a Ucrânia permite dizer que já é estado não existente. Os EUA não podem se mostrar distantes dos eventos na Ucrânia, mas tampouco têm meios para agir sozinhos.

Os EUA sabem como desestabilizar outros países, mas, como agora, gostariam muito de contar com a ajuda de Moscou para acertar as coisas na Ucrânia...

Washington nunca pensou na Ucrânia, quando o país vivia em calma, pelo menos jamais manifestou qualquer interesse em desenvolver laços bilaterais. Os EUA estão no décimo lugar, na lista dos maiores investidores na economia da Ucrânia, com estoque de apenas 1 bilhão de dólares. Nunca se dedicaram a conhecer os interesses do parceiro. 

Centenas de pessoas em  New Brunswick protestaram entre 26/10 e 5/1/2013 contra a
extração de gás de xisto (shale gas) a mesma coisa que os EUA pretendem fazer na Ucrânia
Os EUA promovem a produção não tradicional de gás, nos depósitos ocidentais pouco lucrativos, onde a população não está inclinada a apoiar a “amizade do xisto” com os EUA [1]. Nenhum projeto de investimento em outro setor de energia existe e nada há que vise a aumentar as trocas comerciais. As trocas, aliás, são mínimas: as exportações dos EUA para a Ucrânia não passam dos 200 milhões de dólares, e as exportações ucranianas para os EUA mal chegam a $60-70 milhões.

Diferente disso, os laços entre Ucrânia e Rússia são muito mais próximos; de fato, não há comparação possível. O comércio entre Rússia e Ucrânia ultrapassa 40 bilhões de dólares; a Rússia é o principal mercado para a Ucrânia (aproximadamente 10 bilhões de dólares).

Quando Yanukovich chegou ao poder em 2010, os EUA concentraram seus esforços em desenvolver alguma cooperação no campo da não proliferação nuclear; as partes concordaram que a Ucrânia não teria urânio altamente enriquecido. Os EUA prometeram ajuda na descontaminação do território afetado pelo desastre nuclear de Chernobyl. Essa ajuda jamais chegou. Já faz muito tempo que os EUA vêm substituindo dinheiro por promessas, em ouvidos sempre prontos a acreditar em palavras ocas.

Os cérebros da política exterior de EUA e Grã-Bretanha, John Kerry e William Hague, jamais discutiram qualquer ajuda urgente à Ucrânia, em nada que se parecesse a alguma reunião especial. No máximo, trocaram ideias sobre o tema, quando se cruzaram nos corredores da Conferência sobre Abusos Sexuais e Conflitos Armados que se realizou em Washington (?).

William Hague (E) e John Kerry (D)
O Secretário do Exterior da Grã-Bretanha disse que os novos líderes políticos em Kiev ainda teriam de comprovar que seriam capazes de implementar reformas e combater a corrupção. Hague acredita que, assim, melhorarão as chances de o país obter ajuda financeira da comunidade internacional. Quer dizer, portanto, que é outra vez, como sempre, chantagem e queda-de-braço, dessa vez aplicadas contra gente que depositou suas esperanças na ajuda ocidental. A única coisa sobre a qual não há dúvida alguma é que não haverá dinheiro dos EUA para a Ucrânia.

Do ponto de vista dos EUA, Yanukovich nunca foi o pior presidente da Ucrânia. Foi derrubado por golpe, movimento que anda ao arrepio dos princípios norte-americanos de respeito à lei e à democracia.

Os norte-americanos perguntam-se o que Obama faria se seus adversários se armassem e se pusessem a lançar coquetéis molotov contra o Capitólio, invadissem a Casa Branca e quebrassem as vidraças do Salão Oval? O presidente dos EUA aceitaria calmamente que o Congresso, de repente, lhe tirasse todos os seus poderes e o demitisse, sem aviso prévio e sem nenhum dos procedimentos que a lei exige para demitir o presidente, e em momento em que agitações e o caos tomassem conta do país?

Barack Obama
Norte-americanos sérios e respeitadores da lei absolutamente não entendem como é possível que Obama tenha dito a Yanukovich que tirasse as forças de segurança das ruas, quando havia combate nas ruas de Kiev e já havia mortos. Como é possível?

Para muitos, nos EUA, a reação de Obama foi, de fato, de incitamento ao golpe e à violência. Na verdade, o governo dos EUA emitiu uma licença para matar, e é responsável por dúzias de vidas humanas perdidas em Kiev. Vergonha, para os EUA.

O fato de que Obama tentou esconder-se por trás de funcionários nomeados por ele e que trabalham para ele e fugiu de qualquer encontro direto com Yanukovich, não é desculpa para suas ações. A política dos EUA para a Ucrânia foi entregue nas mãos do vice-presidente Joe Biden naqueles dias críticos. Foi Biden quem falou NOVE VEZES com Yanukovich pelo telefone... Agora, é o secretário de Estado John Kerry que se põe a falar sobre a Ucrânia do modo mais absurdo e confuso, tentando encobrir o estúpido fracasso da diplomacia dos EUA.

Sergey Lavrov, Ministro das Relações Exteriores da Rússia
Falando sobre os eventos, Kerry diz que não é “jogo de soma zero”. Ora essa! Em jogo de soma zero, o vencedor ganha tudo que o perdedor perca. O ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, observou que Kerry tinha dificuldades com números, quando falou sobre a Ucrânia na Conferência de Munique. O secretário de Estado disse que Kiev teria de escolher entre o mundo todo e um único país. Agora, o mesmo secretário de Estado já começou a falar de “trabalhar em conjunto com a Rússia”.

A Casa Branca expôs seu apoio à integridade territorial da Ucrânia. Já começou a enfatizar, até, a importância da participação da Rússia no gerenciamento da crise. O Secretário do Exterior da Grã-Bretanha William Hague admitiu que seria importante que a Ucrânia cooperasse com ambos: com a Rússia e com a União Europeia.

Sim, mas... A questão importante não é o que eles pensem. A questão importante é se a Rússia quer cooperar com o novo regime em Kiev. 

Moscou condena resoluta e veementemente o crescimento de sentimentos neonazistas e neofascistas na parte ocidental da Ucrânia, as ideias de proibir o idioma russo, de converter os falantes de russo em “não cidadãos”, de limitar a liberdade de expressão e de extinguir todos os partidos políticos não prestigiados pelo novo regime. Washington precisa entender também que os líderes da Praça Maidan, que juraram fidelidade a valores europeus, lá estavam em flagrante violação de normas fundamentais da Constituição da União Europeia, relacionadas ao modo de tratar nacionalidades minoritárias, inclusive minorias que falem seus próprios idiomas.

Zbigniew Brzezinski
Nesse contexto, as predições de Zbigniew Brzezinski, essa semana, noFinancial Times, de que a maioria dos ucranianos converter-se-ão em inimigos da Rússia soam, só, como piada macabra de russófobo decrépito. Essa semana, Zbigniew Brzezinski recomendou explicitamente a finlandização da Ucrânia. [2] Implica respeito mútuo, amplos laços econômicos com Rússia e com a União Europeia, não alinhamento com nenhuma das alianças militares que a Rússia vê como hostis. Assim, a cooperação entre Rússia e Europa faria progressos. Em resumo a finlandização está sendo oferecida como padrão de relações entre Ucrânia, União Europeia e Rússia. Ok, mas... Que conversa é essa?!

Não foi a Rússia, mas a União Europeia, quem disse que a Ucrânia teria de escolher entre a Europa e a Rússia. Foi oultimatum lançado pela União Europeia, que Yanukovich teve de enfrentar. O presidente Putin da Rússia só fez perguntar por que, afinal, a Ucrânia teria de escolher, fosse o que fosse. Segundo ele, Moscou estava pronta para ajudar e a impedir o colapso da Ucrânia, unindo esforços com o ocidente. A ajuda poderia vir na forma de um pacote de ajuda tripartite. Washington e Bruxelas recusaram.

eles, portanto, não à Rússia, é que Brzezinski deve dar suas lições de finlandização. Moscou jamais esqueceu que os ucranianos são nação-irmã – a Rússia e a Ucrânia são duas partes de uma mesma civilização.

Por isso, exatamente, o ocidente jamais inclui a Ucrânia na lista de seus aliados incondicionais.


Notas dos tradutores

[1] P. ex.; 5/12/2013, NB MEDIA CO-OP, Najat Abdou-McFarland em:View from the Longhouse: hundreds unite in peace and friendship against shale gas

[2] 24/2/2014, Zbigniew Brzezinski, em: Russia needs a “Finland option” for Ukraine [A Rússia precisa de uma “opção Finlândia” para a Ucrânia], Financial Times (só para assinantes) . Excertos:

Os EUA podem e devem fazer saber claramente ao Sr. Putin que os EUA estão preparados para usar sua influência para garantir que uma Ucrânia verdadeiramente independente e territorialmente íntegra trabalhará a favor de políticas para a Rússia semelhantes às efetivamente praticadas pela Finlândia: relações respeitosas de vizinhança, com amplas relações econômicas com a Rússia e com a União Europeia; nenhuma participação em qualquer aliança que Moscou considere como dirigida contra ela, mas expandindo sua conectividade europeia.

[Essa finlandização da Ucrânia seria necessária, para Brzezinski, porque]

A Rússia ainda pode lançar a Ucrânia numa destrutiva e internacionalmente perigosa guerra civil. Pode induzir e depois apoiar a secessão na Crimeia e em algumas partes industrializadas do leste do país

O artigo de onde foi tirada a frase acima: The Finlandization of Ukraine? não nos interessou, porque, se Brzezinski escreve como perfeito doido russófobo senil, o autor do artigo escreve como doido-de-repetição, ainda mais atrasado-atrasante.
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[*] Nikolay Bobkin é Ph.D. em Ciências Militares, professor associado e pesquisador sênior no Center for Military-Political Studies, Institute of the U.S.A. & Canada. Colaborador especialista na revista online New Eastern Outlook. Escreve habitualmente para diversossites e blogs tais como: Strategic Culture, Troubled Kashmir, Make Pakistan Better e muitos outros.