quarta-feira, 25 de junho de 2014

TRAGÉDIA ARGENTINA E BRASILEIRA ANIMA OS TUCANOS E OS BANCOS.






Dívida e dilema de Cristina Kirchner

Por Emir Sader, na "Rede Brasil Atual":

"Como os outros países da região, a Argentina acumulou grande dívida externa durante a ditadura militar, multiplicada pelos governos neoliberais de Carlos Menem (1989-1999), que sobrou como herança para a democracia.

Só que, no caso argentino, Menem privatizou ainda mais radicalmente que no Brasil. Tendo levado o peronismo para o governo, esvaziou o campo de oposição à esquerda, e pôde, inclusive, privatizar a YPF, a estatal petrolífera que havia permitido ao país chegar à autossuficiência energética. Às dividas herdadas se somaram, assim, desequilíbrios nas contas publicas, pela necessidade de importar energia além de subsidiar o seu consumo.

Nestor Kirchner não dispunha nem de empresas estatais para amparar a obtenção de financiamentos externos. Valeu-se do calote decretado por um dos vários presidentes - Rodrigues Sá - durante a crise de 2001/2002, para desenvolver a estratégia de renegociação da divida, com grande abatimento.

A renegociação foi aceita por 93% dos credores e a Argentina passou a pagar sua dívida. Porém, os 7% restantes não apenas entraram em instâncias do Judiciário norte-americano, reivindicando seu direito de receber os papéis da dívida pelo seu montante original, como querendo prioridade para recebê-los. Além disso, compraram papéis muito baratos, porque estão acostumados a fazer esse negócio.

O mesmo proprietário maior desses papéis - Paul Singer, o ruim (nada a ver com o professor e economista brasileiro) -, fez negócios similares com papéis do Peru e da República Democrática do Congo, entre outros, contando com a corrupção de parlamentares e de juízes norte-americanos.

Diante da dívida argentina, os fundos abutres - como são chamados- conseguiram decisão jurídica que obriga o governo a pagá-los prioritariamente e com data fixada - 30 de junho. A mesma data de um novo pagamento aos credores que haviam aceito a renegociação. Feitos os cálculos, a Argentina poderia ser obrigada a usar a metade ou até mais da metade das suas reservas.

Coloca-se o duro dilema para o governo de Cristina Kirchner entre pagar e ficar fragilizada em termos de reservas ou, se deixar de pagar, ter que decretar o calote, com todas as consequências. Caso tente pagar aos fundos que aceitaram os termos da renegociação, os recursos podem ser apropriados para serem destinados aos fundos abutres.

A economia argentina já não vive um bom momento, com a previsão de recessão para este ano, com inflação crescente - próxima de 30% ao ano -, com dólar paralelo alto. Qualquer que seja a solução que o governo consiga dar ao problema da dívida, a situação econômica será afetada. Desde já, depois de ter renegociado as dívidas com o Clube de Paris e com a "Repsol', esperando normalizar o fluxo de entradas de capitais, esse ingresso fica suspenso diante das incertezas atuais.

O governo tenta renegociar as condições impostas pelo Judiciário, seja nessa instância, seja diretamente com os fundos abutres, tentando flexibilizar as condições de pagamento. No plano interno, a oposição – a de direita e a de ultraesquerda – não presta solidariedade ao governo. A mesma direita que contraiu essas dívidas, agora se aproveita da situação para enfraquecer ainda mais um governo que já tem perspectivas difíceis para as eleições presidências de outubro de 2015.

A Argentina deveria contar com a solidariedade dos outros governos da região, vítimas, em níveis diferentes, do mesmo capital especulativo. Deveriam aproveitar a circunstância para considerar concretamente a adoção de taxação sobre a livre circulação do capital financeiro. Até porque do braço de ferro da Argentina com os fundos abutre depende em boa parte as perspectivas econômicas e políticas da região em relação aos organismos financeiros internacionais.

FONTE: escrito pelo cientista político Emir Sader, na "Rede Brasil Atual". Postado no "Blog do Miro"  (http://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/06/divida-e-dilema-de-cristina-kirtchner.html).

COMPLEMENTAÇÃO

A TRAGÉDIA NEOLIBERAL DA ARGENTINA E DO BRASIL

FHC e Menem

Este blog 'democracia&política' recorda o triste resultado das políticas “neoliberais” implantadas na década de 90 por Menem na Argentina e por FHC/PSDB-DEM no Brasil. Os PIB dos dois países caíram muito no fim daquela nefasta experiência. 

Inebriados, cegos, apaixonados pelos ditames dos EUA, havia nos dois países a competição neoliberal Menem x FHC. 


FHC feliz e orgulhoso de servir de simples e rebaixado encosto para Clinton. Os demais não disfarçaram o riso debochado


Naquela disputa, Menem apelou para ganhar. Por intermédio do seu Ministro das Relações Exteriores (Guido di Tella) não quis ficar atrás das ousadias americanófilas de FHC e também ousou desmesuradamente. Confessou, com grande "coragem", que aquele país desejava e estava em “relações carnais com os EUA", o que levou a inteira nação argentina a posições constrangedoras. 

Assim, Menem venceu FHC por pequena diferença, naquela acirrada competição.

O pagamento para aquelas relações não lhe veio a ser compensador. Ela foi deixada em estado lastimável até hoje, apesar do humilhante alinhamento incondicional e automático com os EUA e de, exemplarmente, ter obedecido a todos os desejos e às prescrições das agências internacionais de empréstimos, sendo alvo de constantes elogios do G-7, do FMI e do então presidente Clinton.

O único mimo que a Argentina recebeu foi um enfeitado diploma de “Aliada dos EUA extra-OTAN” honorária ("major non-Nato ally - MNNA"), sem qualquer benefício prático. 



Alguns anos após, mesmo com a Argentina sofrendo, o presidente George W. Bush a ironizou com escárnio, dizendo que a cura de suas feridas “é problema dela, que desse modo quis soberanamente, e não do contribuinte americano”. 
O Brasil, após aquele governo antinacional, por sorte voltou a recuperar-se no governo Lula. A Argentina também, nos governos Kirchner. Contudo, como a queda da Argentina fora maior, até hoje ela ainda não se recuperou da tóxica dolarização e não voltou aos níveis de PIB antes alcançados, mesmo com os fortes crescimentos da economia."

FONTE da complementação: este blog 'democracia&política'  (http://democraciapolitica.blogspot.com.br/2008/05/pib-da-argentina-x-pib-do-brasil.html).


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