quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Guerra dos portos no centro da “chinelagem” da PF.

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De pé de chinelo o ex-senador Gilberto Miranda não tem nada; sua tentativa de construir um porto na ilha dos Bagres, em Santos, para milhares de containers empresariais, e com R$ 2 bi de dinheiro público, é a parte principal da Operação Porto Seguro; Miranda tem interesses cruzados com o vice-presidente Michel Temer e o ex-presidente José Sarney.

29 de Novembro de 2012 às 13:38.

247_ Tem gente que só pensa grande – e o ex-senador Gilberto Miranda é uma dessas pessoas. Ele representa, neste momento, o maior interesse financeiro, empresarial e estratégico enrolado nos grampos, investigações e prisões feitas pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro. 

Os interesses de Miranda em torno da construção a ser financiada com R$ 2 bilhões dos cofres públicos de um porto marítimo na Ilha dos Bagres, em Santos, são tão grandes que derrubam a primeira versão de agentes da PF para as próprias descobertas, que apontava a Porto Seguro como "coisa de chinelagem", quer dizer, de deliquentes pés de chinelo.

Tudo o que Gilberto Miranda não é, é pé de chinelo. Dono de uma das maiores fortunas do Brasil, construída após atividades de articulação empresarial na antiga Zona Franca de Manaus, a partir do final da década de 1980, ele é filhote político do presidente do Senado, José Sarney, graças a quem  entrou para a política como suplente de senador pelo Amazonas.

Nos últimos tempos, Miranda vinha articulando o financiamento público do Porto dos Bagres, buscando apoios para seu intento não apenas em Sarney, mas também no vice-presidente Michel Temer, cuja presença por meio de correligionários em cargos estratégicos no Porto de Santos é histórica.

Muito mais do que obter uma licença ambiental para permanecer com sua mansão e heliponto na Ilha das Cabras, na entrada do canal de Ilhabela, o que Giberto Miranda tentava por meio de movimentos sobre o escritório da Presidência da República em São Paulo e, mais especialmente, em contatos com os irmãos Paulo e Rubens Vieira – presos no domingo 25 e que ocupavam, respectivamente, diretorias na Agência Nacional de Águas (ANA) e na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) – era obter autorizações para abrigar grandes containers na Ilha dos Bagres. 

Na prática, Miranda estava perto de chegar a ter seu próprio porto marítimo sem precisar buscar regularmente uma concessão ou investir pesado na infraestrutura necessária. Com um parecer favorável do agora ex-advogado-geral adjunto da União, José Webber Holanda Alves – demitido pela presidente Dilma e investigado pela PF por ter padrão de vida considerado incompatível com seus rendimentos --, Miranda estava se aproximando do seu objetivo. 

Ele ainda pretende, na Ilha dos Bagres, ter um porto capaz de armazenar milhares de coitainers, operando diretamente com as maiores empresas do Brasil. Mas no meio do caminho chegou a Polícia Federal.

Abaixo, reportagem a respeito publicada no jornal Folha de S. Paulo:

MARIO CESAR CARVALHO, JOSÉ ERNESTO CREDENDIO DE SÃO PAULO.
No cargo de advogado-geral-adjunto da União, José Weber Holanda ajudou o ex-senador Gilberto Miranda na aprovação do projeto de um complexo portuário de R$ 2 bilhões na ilha de Bagres, área de proteção permanente ao lado do porto de Santos.

A obra, que ocuparia 1,2 milhão de m² - área similar à do parque Ibirapuera -, dependia de autorização do Ibama, da Secretaria de Portos e da Secretaria de Patrimônio da União. Todos aprovaram.

Weber atuava com Paulo Rodrigues Vieira, preso na última sexta pela Operação Porto Seguro da Polícia Federal sob acusação de comandar um grupo que fazia tráfico de influência em órgãos federais.

O empreendimento na ilha de Bagres, cuja construção começaria em 2013, é o maior negócio flagrado na ação.

Weber era o braço direito do ministro Luís Inácio Adams na AGU (Advocacia-Geral da União), órgão que defende os interesses do governo. Indiciado pela PF, ele foi afastado do cargo.

A procuradora que atua no caso, Suzana Fairbanks, escreveu que uma das conversas telefônicas entre Vieira e Weber, em abril, sugere o pagamento de propina a Weber.

Vieira diz: "Eu trouxe aquele volume resumido. Tem o volume resumido que eu mandei comprar pra você e preciso te entregar".

Para a procuradora, "Paulo [Vieira] provavelmente estava pagando Weber por seu auxílio, enquanto adjunto da AGU, no parecer que fundamentaria a licença [...] de terminal no porto de Santos".

De acordo com a PF, "livros", "exemplares" e "volume" são expressões cifradas para designar dinheiro.

O projeto foi aprovado pelo Ibama em um ano, tempo considerado inusual. Casos assim costumam demorar até três anos. A procuradoria do Ibama é vinculada à AGU.

Em outra ligação, Vieira diz que foi ele quem escreveu parecer sobre o projeto: "Foi até eu que deu aquela redação".

A PF diz ter indícios de que os pareceres oficiais chegavam prontos para os órgãos do governo. Um dos indícios aparece numa conversa de maio entre Miranda e Vieira.

O ex-senador pergunta se Glauco [Moreira, procurador-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários] atenderia pedido do grupo.

"Ele dá sequência?", quer saber Miranda. Vieira responde: "Dá! Principalmente se levar pronto. Principalmente se levar mel na chupeta".

Uma assessora da Secretaria do Patrimônio da União, Evangelina Pinho, chegou a viajar num jato de Miranda para tratar do projeto na ilha.

As gravações mostram que Miranda festeja quando o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), assina um decreto em que reconhece a "relevância econômica e social da obra".

A empresa do projeto, a SPE, foi criada em 2009. O principal acionista chama-se Baron CV, firma registrada na Holanda com capital de R$ 25 milhões. A PF suspeita que Miranda seja um dos sócios.

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