sábado, 20 de agosto de 2016

Por que Portugal vai reforçar presença no Atlântico vigiando Ilhas Selvagens?

Foto - Ilhas Selvagens. Sputnik
O envio de agentes da Polícia Marítima ao arquipélago das Ilhas Selvagens remonta a história secular de disputa pela "última fronteira" marítima com a Espanha. São três pequenas ilhas rochosas localizadas no Oceano Atlântico entre a Madeira (Portugal) e as Canárias (Espanha) onde não há atividade econômica e recursos naturais. Nas Ilhas Selvagens também quase não há habitantes, à exceção dos dois agentes ambientais cuja função é proteger a rica biodiversidade terrestre e marítima. Mas a partir do final de agosto essa "população" vai dobrar, com o envio de dois membros da Polícia Marítima de Portugal e, em 2017, um agente da Marinha portuguesa. Mas por quê Portugal vai vigiar um conjunto de ilhas desertas?
O investimento na fiscalização de um local selvagem é uma jogada que revive um conflito de quase 500 anos com a vizinha Espanha que já gerou momentos de tensão. O domínio das pequenas ilhas não está em jogo, pois elas são propriedade de Portugal reconhecidamente desde 1938. A disputa atual reside na sua classificação. Para os espanhóis, as Selvagens são apenas rochedos. Para os portugueses, formam um arquipélago tão importante que foi visitado por todos os presidentes desde os anos 90 e será vista de perto pelo atual presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, no final de agosto.
"O objetivo principal é claramente o de reafirmação e de reforço prático da soberania portuguesa sobre o extremo mais a sul do território nacional, apesar desta não estar em causa", afirma à Sputnik o professor Pedro Quartin Graça, doutor em Políticas Públicas pelo ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa) com uma tese intitulada "A importância das ilhas no quadro das políticas e do direito do mar: o caso das Selvagens".
Mas por que a classificação das Selvagens, se ilhas ou rochedos, faz diferença? Para responder é preciso dar uma olhada no mapa. Localizadas no Atlântico, 165 km ao norte das Ilhas Canárias e 280 km ao sul da Madeira, elas influenciam diretamente na definição da linha imaginária que divide os espaços marítimos de Portugal e Espanha. As pretensões dos portugueses em ampliar seu espaço marítimo colidem com as pretensões dos vizinhos espanhóis, ambas já apresentadas à Organização das Nações Unidas (ONU). E o motivo é justamente a classificação das Selvagens.

A Espanha quer que as Selvagens sejam consideradas apenas rochedos porque assim, segundo o Direito Marítimo, teriam direito a apenas 12 milhas (22 km) de mar territorial. Se classificadas como ilhas, esse espaço aumenta para 41 milhas (76 km), metade da distância entre as Selvagens e as Canárias. 

Essa disputa gerou momentos de tensão há menos de 30 anos, como quando a Força Aérea Espanhola realizou voos rasantes sobre as ilhas e, após o protesto de Portugal, foi obrigada a emitir um pedido formal de desculpas. Mais recentemente, após a visita do ex-presidente Cavaco Silva ao local em 2013, a Espanha enviou reclamação ao órgão da ONU para Assuntos Oceânicos e Direito do Mar reforçando sus argumentos para que o arquipélago seja considerado apenas um rochedo.

Pedro Quartin Graça acredita que a disputa sobre a classificação das Selvagens como ilhas ou rochedos não parece estar perto do fim. "É, de forma simbólica, a disputa da 'última fronteira', e ninguém a quer perder. Com tudo o que isso implica", afirma o professor, que conversou com a Sputnik desde a Madeira, onde está em férias.
"A Espanha não parece disposta a abdicar daquilo que é, no meu entender, uma errada visão histórica que tem sobre as Selvagens e o fato de, na realidade, estas serem ilhas e não, como a Espanha afirma há décadas, meros rochedos inabitados e não passíveis de exercício de qualquer atividade econômica. Espanha sabe que não tem razão mas insiste em defender que a tem", diz o professor.
O investimento de Portugal em infraestrutura nas ilhas inclui a instalação de um radar com alcance de 24 milhas, o envio de dois agentes da Polícia Marítima a partir da próxima segunda-feira, a aquisição de duas lanchas de fiscalização e o futuro deslocamento de um membro da Marinha para o local. O objetivo escondido neste movimento é reforçar os argumentos do país perante as Nações Unidas na disputa com a Espanha.

"O referido envio serve como efetivação da autoridade do Estado, muito descurada durante décadas, em sede de poderes de vigilância e de fiscalização das atividades, legais e ilegais, exercidas no âmbito mais alargado da ZEE (Zona econômica exclusiva), do mar territorial e da reserva natural e constitui, a par, uma visível demonstração da importância que Portugal atribui à sua fronteira mais a sul, isto num quadro de relacionamento com Espanha por força da proximidade geográfica das Selvagens às Canárias. Serve, sobretudo, como aviso de que Portugal não anda "a dormir" no que toca à defesa dos seus interesses, o que é de louvar pelo alcance prático da iniciativa que, diga-se, há muito defendíamos como sendo de transcendental interesse nacional", explica professor Quartin Graça.
O reforço da presença do Estado melhora as condições para o exercício da autoridade do Estado", disse em junho passado o ministro português da Defesa, Marcos Perestrello, citado pelo jornal Público. O atual presidente português falou na mesma ocasião sobre a visita e rejeitou qualquer intensão de manifestação de soberania. Marcelo Rebelo de Sousa disse que não há nenhuma motivação política ou jurídica na sua viagem às Selvagens programada para os dias 28, 29 e 30 de agosto. Ele justificou que visitará o arquipélago por "curiosidade", porque sempre quis, como cidadão.
"Apesar do Presidente da República ter desdramatizado a questão do exercício da soberania sobre as Selvagens, e ter introduzido na sua visita uma oportuna passagem pelas Desertas, é por demais evidente que Marcelo Rebelo de Sousa, não só está muito bem informado sobre a importância das Selvagens, como sabe que é lá que se joga, em matéria da classificação destas como ilhas ou como rochedos, o futuro de uma enorme parcela da ZEE de Portugal", aponta o professor Quartin Graça. Ex-deputado pelo PSD e reconhecido estudioso sobre as Selvagens, ele argumenta que "uma visita de um Chefe do Estado a uma parte do território pátrio nunca se pode classificar como sendo apenas feita a título de curiosidade. É na realidade muito mais do que isso, quer interna, quer externamente".






sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Contra infarto e AVC, uma dose de ácido acetilsalicílico a cada três dias, diz estudo.

Em artigo no The Journal of Clinical Pharmacology, pesquisadores brasileiros mostram que benefício do novo esquema terapêutico é equivalente ao da dose diária e tem menor risco gastrointestinal (Foto: Wikimedia Commons)
Karina Toledo  |  Agência FAPESP – Para pacientes de risco, a ingestão de uma dose de ácido acetilsalicílico (AAS) a cada três dias pode ser tão eficiente na prevenção de infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e doença vascular periférica quanto consumir o medicamento diariamente. E com uma vantagem: a probabilidade de complicação gastrointestinal diminui.
A conclusão é de um estudo brasileiro apoiado pela FAPESP e pela Biolab Farmacêutica. Os resultados foram publicados no The Journal of Clinical Pharmacology e o artigo foi destacado como “escolha do editor”.
“Há 50 anos o AAS tem sido adotada na prevenção de eventos cardiovasculares, mas seu uso constante pode causar irritação e sangramento gástrico – muitas vezes sem sintomas prévios. Por isso, nos últimos anos, vem se tentando reduzir a dose. Neste estudo, propomos um esquema terapêutico diferente”, disse Gilberto De Nucci, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM-Unicamp) e do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), coordenador do Projeto Temático ao qual está vinculado o estudo.
Conforme explicou De Nucci, o ácido acetilsalicílico inibe a ação da enzima cicloxigenase (COX). Nas plaquetas, isso diminui a produção de tromboxano, um tipo de lipídeo que favorece a agregação plaquetária. Por essa razão, na linguagem popular, costuma se dizer que o AAS “afina” o sangue, ou seja, diminui a probabilidade de formação de coágulos que podem obstruir o fluxo sanguíneo.
Por outro lado, na mucosa gástrica, a inibição da enzima COX diminui a produção de prostaglandinas – substâncias lipídicas que protegem o estômago e o intestino.
“Originalmente, o AAS americano tinha 325 miligramas (mg) do princípio ativo. Na tentativa de diminuir os efeitos adversos, a dose foi reduzida para 162 mg e, depois, para 81 mg. Também há comprimidos de 75 mg. Mas a verdade é que, até hoje, ainda não se sabe ao certo qual é a dose necessária para obter o benefício cardiovascular”, comentou De Nucci.
No ensaio clínico realizado durante o doutorado de Plinio Minghin Freitas Ferreira, na USP, sob orientação de De Nucci, foi adotada a dose de 81 mg. Vinte e quatro voluntários sadios foram divididos em dois grupos. Metade recebeu AAS todos os dias durante um mês. Os demais receberam o fármaco a cada três dias e, no intervalo, apenas placebo.
Antes e ao final do tratamento, todos os voluntários passaram por diversos exames, entre eles endoscopia, biópsia gástrica e teste de agregação plaquetária. Também foi medido no sangue o nível de tromboxano e, no estômago, o de prostaglandina do tipo 2 (PGE2).
“No grupo que tomou AAS todos os dias, houve uma redução de 50% na síntese de PGE2, enquanto nos voluntários que tomaram a cada três dias não foi observada diferença em relação aos níveis basais. Por outro lado, em ambos os grupos, a inibição de tromboxano foi superior a 95% e o resultado no teste de agregação plaquetária foi equivalente”, contou De Nucci.
Na avaliação de Ferreira, os dados permitem concluir que o uso de AAS a cada 72 horas é tão eficaz quanto – e mais seguro – do que seu uso diário. Essa descoberta, segundo o pesquisador, abre a possibilidade de adotar o fármaco também na prevenção primária de eventos cardiovasculares.
Atualmente, o Food and Drug Administration (FDA) – órgão que regulamenta o consumo de alimentos e de medicamentos nos Estados Unidos – recomenda que o AAS seja usado apenas na prevenção secundária de doenças cardiovasculares, ou seja, em pacientes diagnosticados com doença vascular periférica e os que já tiveram algum episódio de infarto ou AVC e correm risco de um segundo evento. Somente nessa situação, segundo o FDA, os benefícios da terapia suplantariam os riscos de efeitos adversos.
“Com esse novo esquema terapêutico, o AAS também poderia ser usado no tratamento de pacientes que nunca tiveram um evento cardiovascular, mas apresentam alto risco, como os diabéticos”, disse Ferreira.
Patente
Os dois grupos de voluntários que participaram do ensaio clínico receberam, além de AAS, o anti-hipertensivo losartan. Conforme explicou De Nucci, o objetivo foi mostrar que uma droga não influencia a ação da outra.
Em um estudo anterior, publicado no Journal of Bioequivalence & Bioavailability, o grupo já havia mostrado que o AAS não diminui a biodisponibilidade do losartan. As duas drogas são frequentemente associadas no tratamento de pessoas com insuficiência cardíaca, hipertensão e doenças isquêmicas.
“Em parceria com a Biolab, nós solicitamos nos Estados Unidos a patente do esquema terapêutico adotado no estudo. Umas das possibilidades em estudo é lançar um produto que associe, na mesma cartela, o AAS e o losartan ou algum outro medicamento. No primeiro dia, o paciente tomaria os dois fármacos, no segundo e no terceiro, apenas o anti-hipertensivo e placebo e assim por diante. Isso ajudaria as pessoas a tomar os medicamentos corretamente”, afirmou De Nucci.
O artigo Acetylsalicylic Acid Daily vs Acetylsalicylic Acid Every 3 Days in Healthy Volunteers: Effect on Platelet Aggregation, Gastric Mucosa, and Prostaglandin E2 Synthesis (doi: 10.1002/jcph.685) pode ser lido em onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/jcph.685/full.

link: http://agencia.fapesp.br/contra_infarto_e_avc_uma_dose_de_acido_acetilsalicilico_a_cada_tres_dias_diz_estudo/23792/

Reitores das federais no estado de SP não descartam fechamento de cursos.


Frente Parlamentar em Defesa das Universidades Públicas teme retrocessos na educação. MAURÍCIO DE SOUZA/ALESP



Cida de Oliveira. Da RBA.
A Frente Parlamentar em Defesa das Universidades Públicas no estado de São Paulo e reitores das universidades federais localizadas em São Paulo (Unifesp), do ABC (UFABC), de São Carlos (UFSCar) e do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) vão solicitar audiência com os ministros da Educação, Mendonça Filho, da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Orçamento e Gestão, Dyogo Henrique de Oliveira, para apresentar as dificuldades enfrentadas nas instituições.
A decisão foi tomada na manhã desta quinta-feira (18), durante reunião da frente feita para discutir a grave crise. Um documento já está sendo finalizado pelos reitores para ser levado às audiências. E o coordenador da frente, deputado Carlos Neder (PT), vai pedir autorização à Assembleia Legislativa para acompanhar os reitores a Brasília.
O quadro apresentado pelos reitores é preocupante. Ao mesmo tempo em que as universidades estão sendo ampliadas, com a criação de novos campi, os recursos vêm sendo contingenciados. Além disso, a maioria dos estudantes dessas universidades é oriunda de famílias mais pobres, que ingressaram por meio de ações afirmativas. A UFSCar, por exemplo, é a universidade brasileira que tem o maior número de alunos indígenas.
“Pelas incertezas, está em jogo todo o avanço dos últimos dez anos. Não há futuro para quem não tem sistema forte de educação, ciência e tecnologia para o salto qualitativo. E precisamos juntar forças”, disse o pró-reitor de gestão de pessoas da UFSCar, Mauro Rocha.
“Se os parâmetros de corte continuarem, a universidade estará inviabilizada. Temos de ir aos ministérios, ao parlamento, para reverter esse cenário”, disse a reitora da Unifesp, Soraya Smailli. Segundo ela, há obras paralisadas na ampliação de ambulatórios do Hospital São Paulo, que atende à população da capital e de diversas cidades do interior.
“Se a atual situação perdurar, em dois anos, o nosso ensino vai ser à base do cuspe e giz, vamos ter de cortar vagas”,  disse Eduardo Antonio Módena, reitor do Instituto Federal de São Paulo. De acordo com ele, mais da metade dos alunos são cotistas e dependem de assistência estudantil. “Vai aumentar a evasão porque essa assistência é fundamental.”

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Teste de integridade de servidor público provoca discordâncias entre deputados.

O projeto prevê que os testes de integridade serão realizados preferencialmente pela Corregedoria, Controladoria, Ouvidoria ou órgão de fiscalização e controle. Estes órgãos deverão avisar previamente o Ministério Público e os resultados não poderão ser divulgados ao público.
Deputados da comissão especial que analisa o projeto que altera a legislação de combate à corrupção (PL 4850/16) divergiram em relação a um dos pontos mais polêmicos da proposta, a criação do chamado teste de integridade para os servidores públicos.
Os testes de integridade dividem os especialistas ouvidos pela comissão e consistem em simular a oferta de vantagens, sem o conhecimento do servidor público, com o objetivo de testar sua conduta moral e predisposição para cometer ilícitos.
Luis Macedo / Câmara
Audiência pública para tomada de depoimento da ex-secretária executiva, Lytha Battiston Spindola. Dep. Carlos Sampaio (PSDB-SP)
Carlos Sampaio: não faz sentido aplicar os testes em uma categoria e não para outra
Os integrantes da comissão defenderam mais estudo sobre alguns pontos da proposta e disseram que isso não significa “afrouxamento” da legislação.
Psicotécnico mais rigoroso
“Eu, como policial de carreira, lamento quando um policial corrupto é afastado e volta por meio de decisão judicial. Não conheço ninguém mais nocivo à sociedade que o bandido que usa uma arma e é policial”, disse o deputado Aluísio Mendes (PTN-MA), que é policial federal.

“Mas acho complicado o teste de integridade do jeito que foi proposto. Talvez isso seja resolvido com um teste psicotécnico mais rigoroso, na hora da seleção”, acrescentou o parlamentar.
“Não faz sentido aplicar os testes obrigatoriamente para uma categoria e não para outra”, disse o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).
Gilmar Felix / Câmara
Reunião Ordinária. Dep. José Fogaça (PMDB-RS)
José Fogaça: vejo no teste uma possibilidade nova, como programa permanente de controle de corrupção por amostragem
O deputado Marcos Rogério (DEM-RO) questionou a constitucionalidade do teste de integridade. “O teste é incompatível com a Constituição. Este dispositivo pode ser criado se alterando a Constituição, e não por meio de um projeto de lei”, disse.
Controle da corrupção
O deputado José Fogaça (PMDB-RS) defendeu os testes. “Eu vejo no teste de integridade uma possiblidade nova, como um programa permanente de controle de corrupção por amostragem”, disse.

O projeto prevê que os testes de integridade serão realizados preferencialmente pela Corregedoria, Controladoria, Ouvidoria ou órgão de fiscalização e controle. Estes órgãos deverão avisar previamente o Ministério Público e os resultados não poderão ser divulgados ao público.
A proposta também prevê que os testes poderão ser realizados pelo Ministério Público ou pelos órgãos policiais, mediante autorização judicial, em investigações criminais ou que digam respeito à prática de atos de improbidade administrativa.
Provas inválidas
Além do teste de integridade, o projeto de lei prevê outras medidas polêmicas, que dividem os juristas, como a necessidade de o Ministério Público opinar sobre pedidos de habeas corpus, a prisão preventiva para evitar a dissipação do dinheiro desviado e o uso de provas consideradas inválidas em determinados casos.

O projeto também aumenta as penas para crimes contra a administração pública, garante o sigilo da identidade da pessoa que denunciar crimes e criminaliza o enriquecimento ilícito.
Confisco do patrimônio
Além disso, torna hediondos os crimes contra a administração pública e permite ao juiz não aceitar recursos quando considerar que eles são apenas para atrasar o processo.

O projeto também prevê o chamado “confisco alargado”, que é confisco do patrimônio do réu considerado corrupto mesmo quando não existem provas de que aquele bem é fruto de corrupção; responsabiliza os partidos políticos em caso de atos ilícitos e criminaliza o caixa dois em campanhas eleitorais.
Conteúdo relevante
Na audiência pública, o representante do Movimento Vem pra Rua, Jailton Almeida, defendeu as propostas e criticou quem aponta ilegalidades nas chamadas “dez medidas contra a corrupção”.

“Há, nas dez medidas, conteúdo social muito relevante. A Câmara dos Deputados tem a missão de dar respaldo a um desejo da população. E isso não tem lado, não tem cor. Quando formos criticar as dez medidas, que seja construtivamente. Para não frustrar todo o País”, disse.
Reportagem – Antonio Vital
Edição – Newton Araújo

A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura 'Agência Câmara Notícias

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Brasil. Desemprego cresce em todo o país e vai a 11,3% no 2º trimestre, diz IBGE.

Nielmar de Oliveira - Repórter da Agência Brasil
O movimento na Rua 25 de Março, maior centro de comércio popular de São Paulo
Brasil tem hoje 11,6 milhões de desempregados. Taxa de desocupação é de 11,3%Marcelo Camargo/Agência Brasil



















A taxa de desocupação subiu em todas as grandes regiões do país, fechando o segundo trimestre do ano em 11,3% comparativamente ao mesmo período de 2015. Os dados foram divulgados hoje (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e indicam que as taxas são as mais altas já registradas para cada uma das regiões do país, desde o início da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), em janeiro de 2012.

Na região Norte, a taxa de desocupação foi de 8,5% para 11,2%; no Nordeste, de 10,3% para 13,2%; no Sudeste, de 8,3% para 11,7%; no Sul, de 5,5% para 8,0%; e no Centro-Oeste, de 7,4% para 9,7%. No primeiro trimestre de 2016, as taxas haviam sido de 12,8% no Nordeste, 11,4% no Sudeste, 10,5% no Norte, 9,7% no Centro-Oeste e 7,3% no Sul.

Entre as unidades da federação, as maiores taxas de desemprego no segundo trimestre de 2016 foram observadas no Amapá (15,8%); Bahia (15,4%) e Pernambuco (14%), enquanto as menores taxas estavam em Santa Catarina (6,7%), Mato Grosso do Sul (7%) e Rondônia (7,8%).

11,6 milhões de desempregados
Dados divulgados anteriormente pelo IBGE indicam que a taxa geral de desemprego, de 11,3% no trimestre encerrado em junho, é também a maior da série histórica e indicava uma população desocupada de 11,6 milhões de pessoas, um crescimento de 4,5% em relação aos primeiros três meses do ano. Quando a comparação se dá com o segundo trimestre do ano passado, no entanto, o aumento da população desocupada chegou a 38,7%.

A pesquisa indica, ainda, que o nível de ocupação (indicador que mede a parcela da população ocupada em relação à população em idade de trabalhar) ficou em 54,6% para a totalidade do Brasil no segundo trimestre deste ano.

As regiões Nordeste (48,6%) e Norte (54,4%) ficaram abaixo da média do país. Já nas demais regiões, o nível de ocupação variou dos 59,1% verificados na região Sul, passando pelos 59,2% do Centro-Oeste e até os 56,1% do Sudeste.

Por estado, Mato Grosso do Sul (61,1%), Santa Catarina (59,4%), Paraná (59,2%) e Goiás (59,2%) apresentaram os maiores percentuais, enquanto Alagoas (42,9%), Pernambuco (46,6%) e Rio Grande do Norte (47,2%) apresentaram os níveis de ocupação mais baixos.

Carteira de trabalho assinada
Os dados divulgados hoje pelo IBGE, relativos à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua, referentes ao segundo trimestre do ano, apontam a região Sul do país como a que registra o maior percentual de empregados com carteira de trabalho assinada (85,4%), seguida do Sudeste (82,7%) e Centro-Oeste (com 77,5%), todos com percentual de trabalhadores formais superiores à média nacional do país, que fechou o segundo trimestre em 77,3%.

No Nordeste, este percentual de trabalhadores com carteira assinada encerrou o segundo trimestre do ano em 62,25%, enquanto no Norte o índice estava em 61,5%, todos abaixo da média nacional.

Por estado, Santa Catarina (89,7%), Distrito Federal (86,2%) e Rio de Janeiro (85,7%) apresentaram os maiores percentuais de empregados no setor privado com carteira de trabalho, enquanto Maranhão (51,8%), Piauí (52,3%) e Pará (57,4%) exibiram os menores.

Rendimento médio
Os dados da pesquisa indicam que três das principais regiões metropolitanas do país apresentavam um rendimento médio real habitual dos trabalhadores brasileiros acima da média nacional, de R$1.972. Na região Sudeste, o rendimento médio real era no fechamento do segundo trimestre de R$ 2.279, no Centro-Oeste (R$ 2.230) e no Sul (R$ 2.133). Já na região Norte, ele ficou em R$ 1.538 e Nordeste (R$ 1.334), em ambos os casos abaixo da média nacional.

Por estado, o Distrito Federal apresentou o maior rendimento (R$ 3.679), seguido por São Paulo (R$ 2.538) e Rio de Janeiro (R$ 2.287). Os menores valores foram anotados no Maranhão (R$ 1.072), Bahia (R$ 1.285) e Ceará (R$ 1.296).

(*) Texto atualizado às 10h11 para acréscimo de informações

Edição: Kleber Sampaio

A NED, vitrine legal da CIA.

Thierry Meyssan

Desde há 30 anos, a National Endowment for Democracy (NED) sub-contrata a parte legal das operações ilegais da CIA. Sem levantar suspeitas, ela colocou em funcionamento a mais vasta rede de corrupção do mundo, comprando sindicatos operários e patronais, partidos políticos de esquerda e de direita, para que defendam os interesses dos Estados Unidos em vez dos dos seus afiliados. Thierry Meyssan descreve aqui o estendal deste dispositivo.

 | Moscou (Rússia) 

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Em 2006, o Kremlin denunciava a proliferação de associações estrangeiras na Rússia, das quais algumas teriam participado num plano secreto de desestabilização do país orquestrado pela Fundação Americana para a Democracia (National Endowment for Democracy – NED). 

Afim de prevenir uma «revolução colorida», Vladislav Surkov elaborou uma estrita regulamentação destas «organizações não-governamentais (ONG)».

No Ocidente, este enquadramento administrativo foi descrito como um novo ataque do «ditador» Putin e do seu conselheiro contra a liberdade de associação.

Esta política foi seguida por outros Estados que, por sua vez, foram apresentados pela imprensa internacional como «ditaduras».

O governo dos Estados Unidos assegura que se empenha «na promoção da democracia pelo mundo». Ele reivindica que o Congresso subvencione a NED e que esta possa, por sua vez e com toda a independência, ajudar direta ou indiretamente associações, partidos políticos ou sindicatos, operando neste sentido em qualquer parte do mundo. 

As ONGs sendo, como o seu nome indica, «não-governamentais» podem assumir iniciativas políticas que as embaixadas não poderiam assumir sem violar a soberania dos Estados que as albergam. 

O busílis da questão reside pois aqui: a NED e a rede de ONGs que ela financia são iniciativas da sociedade civil, injustamente reprimidas pelo Kremlin, ou biombos dos serviços secretos dos Estados Unidos apanhadas em flagrante delito de ingerência?

Para responder a esta questão, nós iremos rever a origem e o funcionamento da National Endowment for Democracy. Mas, antes de mais devemos analisar o que significa o projeto oficial dos Estados Unidos de «exportação da democracia».

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Os puritanos que fundaram os Estados Unidos queriam fundar aí uma «cidade de luz», iluminando o mundo. Eles consideravam-se como missionários de um modelo político.

Que Democracia? 
Os Norte-americanos, enquanto povo, acreditam na ideologia dos seus pais fundadores. Eles veem-se como uma colônia vinda da Europa para fundar uma cidade obediente a Deus. Eles concebem o seu país como «uma luz na montanha» segundo a expressão de São Mateus, retomada durante dois séculos pela maior parte dos seus presidentes nos seus discursos políticos. Os Estados Unidos seriam uma nação modelo, brilhando no topo de uma colina, iluminando o mundo. E todos os outros povos da Terra iriam copiar esse modelo afim de alcançar a salvação.

Para os Norte-americanos, esta crença ingênua implica, por si própria, que o seu país é uma democracia exemplar e que eles têm um dever messiânico de a estender ao resto do mundo.

Enquanto São Mateus encarava a propagação da fé apenas pelo exemplo de uma vida piedosa, os pais fundadores dos Estados Unidos idealizavam a luz da sua tocha e a sua propagação como uma mudança de regime. 

Os puritanos ingleses decapitaram Carlos I antes de fugir para os Países-Baixos e para as Américas, depois os patriotas do Novo Mundo rejeitaram a autoridade do Rei Jorge III da Inglaterra e proclamaram a independência dos Estados Unidos.

Impregnados desta mitologia nacional, os Norte-americanos não entendem a política externa do seu governo como um imperialismo. Aos seus olhos, é tanto mais legítimo derrubar um governo quanto mais este ambiciona encarnar num modelo diferente do seu, logo maléfico. 

Da mesma forma, estão convencidos que investidos na sua missão messiânica, eles conseguiram impôr pela força a democracia nos países que ocuparam. Eles aprendem nas suas escolas, por exemplo, que os G.Is levaram a democracia à Alemanha. Eles ignoram que a história é exatamente inversa: o seu governo ajudou Hitler a derrubar a República de Weimar e a instaurar um regime militar para combater os Soviéticos.

Esta ideologia irracional impede-os de se interrogarem sobre a natureza das suas instituições, e quanto ao absurdo do conceito de «democracia forçada». Ora, segundo a fórmula do presidente Abraham Lincoln, «a democracia, é o governo do povo, pelo povo, para o povo».

Deste ponto de vista, os Estados Unidos não são uma democracia, mas sim um sistema híbrido, no qual o poder executivo repousa numa oligarquia, enquanto o povo limita o arbítrio do mesmo graças aos contra-poderes legislativo e judicial. 

Com efeito, se o povo elege o Congresso e certos juízes, são os Estados federados quem elege o poder executivo e este último quem designa os altos magistrados. 

Muito embora os cidadãos sejam chamados a pronunciar-se sobre a escolha do seu presidente o seu voto na matéria é apenas consultivo, tal como o "lembrou o Supremo Tribunal, em 2000, na disputa Gore contra Bush. A Constituição dos Estados Unidos não reconhece a soberania do povo, já que o poder é partilhado entre ele e os Estados federados, ou seja os caciques locais."

De passagem, deverá notar-se que a Constituição da Federação da Rússia é, pelo contrário, democrática –- pelo menos no papel— quando afirma : «o detentor da soberania e a única fonte de poder na Federação da Rússia é o seu povo multinacional».(Título I, Ch. 1, art.3).

Este contexto intelectual explica porque os Norte-americanos apoiam o seu governo quando ele anuncia querer «exportar a democracia», quando o seu próprio país não o é , constitucionalmente. Mas, não se vê como eles poderiam exportar o que não têm, e não querem ter em sua própria casa.
No decurso dos trinta últimos anos, esta contradição foi carregada pela NED e concretizou-se pela desestabilização de numerosos Estados. Milhares de militantes e ONGs crédulas violaram a soberania dos povos com o sorriso beato da boa consciência.
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 Uma Fundação pluralista e independente
No seu célebre discurso de 8 de junho de 1982, diante do Parlamento britânico, o presidente Reagan denunciou a União Soviética como o «Império do mal» e propôs vir em ajuda dos dissidentes de lá e arredores. «Trata-se de contribuir para criar a infra-estrutura necessária à democracia: à liberdade de imprensa, de sindicatos, de partidos políticos, de universidades: assim os povos serão livres para escolher a via que lhes convier, afim de desenvolver a sua cultura e resolver os seus diferendos por meios pacíficos», declarou ele.

Sobre esta base consensual da luta contra a tirania, uma comissão de reflexão bipartidária preconizou em Washington a criação da Fundação Nacional para a Democracia (NED). Esta foi instituída pelo Congresso em Novembro de 1983, e financiada de imediato.

A Fundação subvenciona quatro estruturas autônomas, que redistribuem no estrangeiro o dinheiro disponível a associações, sindicatos operários e patronais, e partidos de direita e de esquerda. Trata-se de :

– O Instituto de Sindicatos Livres (Free Trade Union Institute – FTUI), actualmente renomeado Centro Americano para a Solidariedade dos Trabalhadores (American Center for International Labor Solidarity – ACILS), gerido pelo sindicato operário AFL-CIO ;

– O Centro para a Empresa Privada Internacional (Center for International Private Entreprise – CIPE), gerido pela Câmara de Comércio dos Estados Unidos ;

– O Instituto Republicano Internacional (International Republican Institute – IRI), gerido pelo Partido republicano ;

– E o Instituto Nacional Democrático para os Assuntos Internacionais (National Democratic Institute for International Affairs – NDI), gerido pelo Partido Democrata.


Apresentado desta forma a NED e os seus quatro pseudópodes (falsos tentáculos) parecem baseados na sociedade civil, da qual eles refletiriam a diversidade social e o pluralismo político. Financiados pelo povo norte-americano, via Congresso, operariam por um ideal universal. Eles seriam completamente independentes da administração presidencial. E, a sua ação transparente não poderia mascarar operações secretas servindo interesses nacionais inconfessáveis.

A realidade é completamente diferente.

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Em 1982, Ronald Reagan criou a NED, em parceria com o Reino Unido e a Austrália, para derrubar «o Império do Mal».
Uma encenação da CIA, do MI6 e do ASIS
O discurso de Ronald Reagan em Londres ocorre após os escândalos, em torno da revelação por comissões parlamentares de inquérito, sobre os golpes sujos da CIA. O Congresso interdita à Agência a organização de novos golpes de Estado para conquistar mercados. Na Casa Branca, o Conselho de Segurança Nacional procura, pois, implementar outras ferramentas para contornar esta interdição.

A Comissão de reflexão bipartidária fora formada antes do discurso de Ronald Reagan, embora só tenha recebido oficialmente mandato da Casa Branca depois. Ela não surge, portanto, como resposta à grandiloquente ambição presidencial, mas, antes, precede-a. Por consequência, o discurso não passou de uma cobertura retórica de decisões já traçadas, nas suas grandes linhas, e destinadas a ser encenadas pela Comissão bipartidária.

Esta era presidida pelo representante especial dos Estados Unidos para o Comércio, o que indica que ela não visava a promoção da democracia, mas, segundo uma terminologia consagrada, a «democracia de mercado». Este conceito estranho corresponde ao modelo norte-americano: uma oligarquia econômica e financeira impõe as suas escolhas políticas através dos mercados e do Estado federal, enquanto os parlamentares e os juízes eleitos pelo povo protegem os indivíduos contra a arbitrariedade da administração.

Três dos quatro organismos periféricos da NED foram formadas para a ocasião. No entanto não foi necessário criar o quarto, a organismo sindical (ACILS). Este já existia, desde o fim da Segunda Guerra mundial, muito embora tenha mudado de nome em 1978, quando se soube da sua subordinação à CIA. De onde se pode inferir que a CIPE, o IRI e a NDI não nasceram por geração espontânea mas, igualmente, sob a batuta da CIA.

Além disso, embora a NED seja uma associação no Direito americano, ela não é uma ferramenta apenas da CIA mas, também, um dispositivo em comum com os serviços secretos britânicos (foi por isso que ela foi anunciada por Reagan em Londres) e com o australiano. Este ponto fundamental é sempre passado em claro. É, no entanto, confirmado pelas mensagens de felicitações enviadas pelos primeiros-ministros Tony Blair e John Howard aquando do 20º aniversário da suposta «ONG». 

A NED e as suas extensões são órgãos do pacto militar anglo-saxônico entre Londres, Washington e Camberra, tal e qual como a rede de intercepção electrônica Echelon. Este dispositivo, pode ser utilizado não só pela CIA como também pelo MI6 britânico e pelo ASIS australiano.

Para dissimular esta realidade, a NED suscitou a criação entre os aliados de organizações análogas que trabalham com ela. Em 1988, o Canadá dotou-se de um Centro Direitos & Democracia, o qual se focou sobretudo sobre o Haiti, depois sobre o Afeganistão. Em 1991, o Reino Unido instituiu a Westminster Foundation for Democracy (WFD). 

O funcionamento deste organismo público é decalcado sobre o da NED: a sua administração é confiada aos partidos políticos (oito delegados: três pelo Partido Conservador, três pelo Partido Trabalhista, um pelo Partido Liberal, e um último pelos outros Partidos representados no Parlamento). 

A WFD trabalhou extensivamente na Europa Oriental. Finalmente, em 2001, a União Europeia dotou-se do European Instrument for Democracy and Human Rights (IEDDH), a qual suscita menos suspeitas que as suas homólogas. Este gabinete reporta à EuropeAid, dirigida por um alto-funcionário tão poderoso quanto desconhecido, o Neerlandês Jacobus Richelle.

A diretiva presidencial 77
Ao votar pela fundação da NED, a 22 de Novembro de 1983, os parlamentares EU ignoravam que ela existia já em segredo, em virtude de uma diretiva presidencial datada de 14 de Janeiro [1].
Este documento, que só foi desclassificado duas décadas mais tarde, organiza a «diplomacia pública», expressão politicamente correta para designar a propaganda. Ele institui na Casa Branca grupos de trabalho, no seio do Conselho de Segurança Nacional, dos quais um encarregue de dirigir a NED.

Por conseguinte, o Conselho de administração da Fundação não é mais que uma correia de transmissão do Conselho de Segurança Nacional. Para manter as aparências, foi acordado que, de modo geral, os agentes e antigos agentes da CIA não poderiam ser nomeados administradores.

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Henry Kissinger, administrador da NED. Um «representante da sociedade civil»?

No entanto, as coisas são transparentes. A maior parte dos altos funcionários que tiveram um papel central no Conselho de Segurança Nacional foram administradores da NED. É por exemplo o caso de Henry Kissinger, Franck Carlucci, Zbigniew Brzezinski, ou ainda Paul Wolfowitz; personalidades que não ficarão na História como idealistas da democracia, mas, sim como estrategas cínicos da violência.

O orçamento da Fundação não pode ser interpretado isoladamente, uma vez que ele recebe as suas directivas do Conselho de Segurança Nacional para realizar ações que se inscrevem nas vastas operações inter-agências. Fundos, nomeadamente quando provêm da Agência de Ajuda Internacional (USAID), transitam pela NED sem aparecer no seu orçamento, simplesmente para as «não-governamentalizar». Além disso, a Fundação recebe indirectamente dinheiro da CIA, depois de ele ter sido branqueado por intermediários privados como a Smith Richardson Foundation, a John M. Olin Foundation ou ainda a Lynde and Harry Bradley Foundation.

Para avaliar a amplitude deste programa, era preciso cumular o orçamento da NED com os os sub-orçamentos correspondentes do Departamento de Estado, da USAID, da CIA e do Departamento da Defesa. Ora, uma tal estimativa é hoje em dia impossível.

Alguns elementos conhecidos permitem, no entanto, dispôr de uma estimativa de valor. Os Estados Unidos despenderam no decurso dos cinco últimos anos mais de 1 bilião de dólares(mil milhões-ndT) para associações e partidos no Líbano, um pequeno Estado de 4 milhões de pessoas. Globalmente metade deste maná foi distribuído publicamente pelo Departamento de Estado, pela USAID e pela NED, a outra metade foi vertida secretamente pela CIA e pelo Departamento da Defesa. 

Este exemplo permite extrapolar que o orçamento geral da corrupção institucional pelos Estados Unidos conta-se em dezenas de milhar de milhões de dólares anuais. De passagem, o programa equivalente da União Europeia, que é inteiramente público e fornece um reforço às ações norte-americanas, é de 7 mil milhões(bilhões-br) de euros por ano.

Em resumo, a estrutura jurídica da NED e o volume do seu orçamento oficial não são mais que iscos. Na essência ela não é um organismo independente encarregue de ações legais outrora da alçada da CIA, ela é, sim, uma vitrine que o Conselho de Segurança Nacional encarrega de concretizar os elementos legais de operações ilegais.

A estratégia trotskista
 No decurso da sua fase de implementação (1984), a NED foi presidida por Allen Weinstein, depois durante quatro anos por John Richardson (1984-88), finalmente por Carl Gershman (desde 1998).

Estes três homens têm três pontos em comum. São judeus, militaram no seio do Partido trotskista, Social Democrats USA, e trabalharam na Freedom House (Casa da Liberdade-ndT). Há uma lógica nisso : por ódio ao stalinismo, certos trotskistas juntaram-se à CIA para lutar contra os soviéticos. 

Trouxeram com eles a teoria de tomada do poder mundial, transpondo-a para as «revoluções coloridas» e a «democratização». Eles simplesmente deslocaram a vulgata trotskista, aplicando-a ao combate cultural analisado por Antonio Gramsci: o poder exerce-se nas mentes mais do que pela força. Para governar as massas uma elite deve, primeiro, inculcar-lhes uma ideologia que programe a sua aceitação pelo poder que as domina.

Le Centro americano para a solidariedade com os trabalhadores (ACILS)

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Conhecido sob o nome de Solidarity Center, o ACILS, ramo sindical da NED, é de bem longe o seu canal principal. Ele distribui mais de metade dos donativos da Fundação. Ele sucedeu aos organismos anteriores que serviram durante toda a Guerra Fria para estruturar os sindicatos não-comunistas no mundo, do Vietname a Angola, passando pela França e pelo Chile.
O facto de escolher os sindicalistas para cobrir este programa da CIA é de uma rara perversidade. Longe do slogan marxista «Proletários de todos os países, uni-vos», o ACILS associa os sindicatos operários norte-americanos ao imperialismo que esmaga os trabalhadores de outros países.

Este ramo era dirigido por um personagem extravagante, Irving Brown, de 1948 até à sua morte em 1989.

Alguns autores asseguram que Brown era o filho de um Russo Branco, companheiro de Alexandre Kerensky. O que é certo, é que ele foi agente da OSS, o serviço de inteligência dos EU durante a Segunda Guerra mundial e participou na criação da CIA e da rede Gladio da OTAN. 

Ele recusou tomar conta da liderança, preferindo concentrar-se na sua especialidade, os sindicatos. Foi colocado em Roma, depois em Paris, e não em Washington, de tal maneira que exerceu uma influência especial na vida pública italiana e francesa. 

No fim da sua vida, ele gabava-se assim de ter sempre dirigirido, secretamente, o sindicato francês Force Ouvrière, de ter mexido os pauzinhos no sindicato estudantil UNI (onde militaram Nicolas Sarkozy e os seus ministros François Fillon, Xavier Darcos, Hervé Morin e Michèle Alliot-Marie, assim como o Presidente da Assembleia Nacional, Bernard Accoyer, e o Presidente do Grupo parlamentar da maioria, Jean-François Copé) e de ter, pessoalmente, formado à Esquerda membros de um grupúsculo trotskista, entre os quais Jean-Christophe Cambadelis e o futuro Primeiro-ministro Lionel Jospin.
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Em 1981, Irving Brown coloca Jean-Claude Mailly como assistente do secretário-geral da Force Ouvrière, André Bergeron. Este último reconhecerá financiar a sua actividade graças à CIA. Mailly torna-se secretário-geral da FO em 2004.

 No fim dos anos 90, os aderentes da Confederação, AFL-CIO exigiram contas sobre as reais actividades da ACILS, quando tinha sido abundantemente documentado o seu carácter criminoso em muitos países. Poderia imaginar-se que as coisas teriam mudado após esta grande revelação. Nem pensar. Em 2002 e 2004, o ACILS participou activamente no golpe de Estado falhado na Venezuela, contra o Presidente Hugo Chávez e, ao bem sucedido, no Haiti, derrubando o Presidente Jean-Bertrand Aristide.

Hoje em dia o ACILS é liderado por John Sweeney, antigo presidente da Confederação AFL-CIO, que também originário do Partido Trotskista Social Democrats USA.

O Centro para a empresa privada internacional (CIPE)
O Centro para a empresa privada internacional (CIPE) focaliza-se sobre a divulgação da ideologia capitalista liberal e a luta contra a corrupção.

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O primeiro êxito do CIPE, é a transformação, em 1987, do Europan Management Forum –-um clube dos grandes patrões europeus— em World Economic Forum –-o clube da classe dirigente transnacional—. O grande encontro anual do supra-sumo económico e político global, na estância de esqui suíça de Davos, contribuiu para forjar uma pertença de classe para além das identidades nacionais.

O CIPE vela para não ter nenhum laço estrutural com o Fórum de Davos, e não é possível –de momento— provar que o World Economic Forum é instrumentalizado pela CIA. Por outro lado, os responsáveis de Davos teriam muita dificuldade em explicar por que certos dirigentes políticos escolhem o seu Fórum econômico para aí jogar cartadas da maior importância se não se tratasse de operações planificadas(planejadas-br) pelo Conselho de Segurança Nacional dos EUA. 

Por exemplo, em 1988, foi em Davos –-e não na ONU— que a Grécia e a Turquia fizeram a paz. Em 1989, é em Davos que as duas Coreias por um lado, e as duas Alemanhas por outro, realizam a sua primeira cimeira a nível ministerial, para uns, e a sua primeira cimeira sobre a reunificação para os outros. Em 1992, é ainda em Davos que Frederik de Klerk e Nelson Mandela, livre, vêm em conjunto apresentar, pela primeira vez no estrangeiro, o seu projeto comum para a África do Sul. Ainda mais inverosímil, é em Davos que em 1994, após o acordo de Oslo, Shimon Peres e Yasser Arafat, vêm negociar e assinar o seu roteiro para Gaza e Jericó.

O contacto entre o Fórum e Washington passa notoriamente por Susan K. Reardon, a antiga directora da associação profissional dos empregados do Departamento de Estado feita diretora da Fundação da Câmara de Comércio dos Estados Unidos, que gere a CIPE.

O outro êxito do Centro para a empresa privada internacional, é a Transparency International. Esta «ONG» foi oficialmente criada por um oficial das informações militares dos EU, Michael J. Hershman, que é também administrador do CIPE, e hoje em dia um dos responsáveis pelo recrutamento de informadores do FBI, bem como o CEO da Agência de inteligência privada Fairfax Group.

A Transparency International é antes de tudo uma fachada para as atividades de inteligência econômica da CIA. É também uma ferramenta de comunicação para coagir os Estados a modificar as suas legislações no sentido da abertura dos seus mercados.

Para mascarar a origem da Transparency International, a CIPE apelou à capacidade do antigo director de imprensa do Banco Mundial, o neo-conservador Frank Vogl. Este último colocou em acção um Comité de personalidades que contribuíram para dar a impressão de uma associação saída da sociedade civil. Este comité de fachada é animado por Peter Eigen, antigo director do Banco Mundial para a África Oriental, cuja esposa foi em 2004 e 2009 a candidata do SPD à Presidência da República Federal da Alemanha.

O trabalho da Transparency International serve os interesses dos EU e não é de modo algum fiável. Assim, em 2008, a pseudo ONG denunciava a corrupção da PDVSA, a empresa pública de petróleos da Venezuela e, com base nas informações falsificadas, colocava-a na última posição da sua tabela mundial de Empresas Públicas. 

O objectivo era evidentemente sabotar a reputação de uma empresa que constitui a base económica da política anti-imperialista do presidente Hugo Chávez. Apanhada em flagrante delito de intoxicação, a Transparency International recusou responder às perguntas da imprensa latino-americana e corrigir o seu relatório. Nada de espantar, diga-se de passagem, quando nos lembramos que o correspondente à CIPE na Venezuela, Pedro Carmona, havia sido brevemente colocado no poder pelos Estados Unidos, aquando do golpe de Estado falhado de 2002 contra Hugo Chávez.

De uma certa maneira, ao focar a atenção dos média sobre a corrupção econômica, a Transparency International mascara a atividade da NED: a corrupção política das elites dominantes em proveito dos Anglo-Saxões.

O Instituto Republicano Internacional (IRI) e o Instituto Nacional Democrático para os assuntos internacionais (NDI)

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O Instituto Republicano Internacional (IRI) tem por vocação corromper os Partidos de Direita, enquanto o Instituto Democrático Nacional para Assuntos Internacionais (NDI) trata dos Partidos de Esquerda. O primeiro é presidido por John McCain, o segundo por Madeleine Albright. Estas duas personalidades não devem, no entanto, ser tomadas como políticos vulgares, um é líder da oposição e outra uma perita aposentada, mas, sim como mentores ativos de programas do Conselho de Segurança Nacional.

Para enquadrar os principais partidos políticos do mundo, o IRI e o NDI renunciaram a controlar a Internacional Liberal e a Internacional Socialista. Eles criaram, pois, organizações rivais, a União Democrática Internacional(UDI) e a Aliança dos Democratas (AD). A primeira é presidida pelo australiano John Howard. O russo Leonid Gozman da causa justa (Правое дело) é o vice-presidente. A segunda é dirigida pelo italiano Gianni Vernetti e co-presidida pelo francês François Bayrou.

O IRI e o NDI apoiam-se também em fundações políticas ligadas aos grandes partidos europeus (seis na Alemanha, duas na França, um nos Países Baixos e ainda uma outra na Suécia). 
Além disso, certas operações foram sub-contratadas a misteriosas sociedades privadas, como a Democracy International Inc. que organizou as últimas eleições manipuladas no Afeganistão.
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Antigo adjunto de Rahm Emanuel e actual responsável do NDI, Tom McMahon veio para a França para organizar as primárias do Partido Socialista.

Tudo isso deixa um gosto amargo. Os Estados Unidos têm corrompido a maior parte dos grandes partidos políticos e sindicatos no mundo. Em última análise, a «democracia» que eles promovem consiste em discutir questões locais em cada país –-a ver, questões sociais como os direitos das mulheres ou dos gays— e a alinhar-se com Washington em todos os assuntos internacionais. As campanhas eleitorais tornaram-se espetáculos nas quais a NED escolhe o elenco fornecendo para tal a certos, e não para outros, os recursos financeiros que eles precisam. Mesmo a noção de alternância perdeu o seu significado, uma vez que a NED promove alternadamente um campo ou outro desde que estes prossigam a mesma política externa e de defesa.
Hoje em dia na União Europeia, e por outros lados, ouvem-se lamentos sobre a crise da Democracia. Esta tem como responsáveis claros a NED e os Estados Unidos. E, como qualificar um regime, como o dos Estados Unidos, onde o principal líder da oposição, John McCain, é na realidade um empregado do Conselho de Segurança Nacional? Seguramente não como uma democracia.

O balanço de um sistema
A USAID, a NED, os seus institutos satélites e as suas fundações intermediárias, deram origem, ao longo dos tempos, a uma vasta e insaciável burocracia. Anualmente a votação sobre o orçamento da NED pelo Congresso dá lugar a vivos debates sobre a ineficácia deste sistema tentacular e a rumores de desvios de fundos em proveito personalidades políticas norte-americanos encarregues de a administrar.

Com a preocupação de boa gestão, inúmeros estudos tem sido encomendados para medir o impacto destes fluxos financeiros. Peritos compararam as somas alocadas em cada Estado e a classificação democrática destes Estados pela Freedom House. 

Depois, calcularam quanto era preciso gastar em dólares por habitante para melhorar num ponto a nota democrática de um Estado.

Claro, tudo isso não é mais que uma tentativa de auto-justificação. A ideia de estabelecer uma classificação democrática nada tem de científico. De maneira totalitária, ela supõe que só existe um modelo de instituições democráticas. E, de maneira infantil, ela estabelece uma lista de critérios díspares que pondera com coeficientes imaginários para transformar a complexidade social num único número.

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Tomicah Tillemann, conselheiro de Hillary Clinton para a socieddae civil e as democracias emergentes, supervisiona o dispositivo da NED no Departamento de Estado.

Já agora, a grande maioria destes estudos concluem pelo falhanço : embora o número de democracias cresça no mundo, não haveria nenhuma conexão entre os progressos ou os recuos por um lado, e as somas gastas pelo Conselho de Segurança Nacional. Pelo contrário, isto confirma que os objetivos reais não têm nenhuma relação com os que são anunciados. Os responsáveis da USAID citam entretanto um estudo, pela Universidade Vanderbilt, segundo o qual várias operações da NED, co-financiadas pela USAID, têm sido eficazes porque a USAID tem uma gestão rigorosa do seu orçamento. Sem surpresa, este estudo singular foi financiado pela… USAID.

Seja como fôr, em 2003, por ocasião do seu vigésimo aniversário, a NED traçou um balanço político da sua ação, de onde ressalta que financiava então mais de 6.000 organizações políticas e sociais no mundo, um número que não cessou de crescer desde aí. 

Ela reivindicava ter criado de raiz o sindicato Solidarnosc, na Polónia, a Carta 77, na Checoslováquia, e o Otpor na Sérvia. Ela congratulava-se por ter criado, a partir do zero, a Rádio B92, ou o diário Oslobodjenje, na ex-Jugoslávia e uma série de novos média independentes no Iraque «libertado».

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Em Dezembro de 2011, as autoridades egípcias revistam as sedes do National Democratic Institute e do International Republican Institute no Cairo. Os documentos apreendidos foram os mais importantes para compreender a ingerência US desde a tomada do «ninho de espiões» de Teerão, em 1979. Acusados de espionagem, os responsáveis da NED são entregues à Justiça. Aqui : Robert Becker (director do NDI no Cairo) na abertura do seu processo. Os documentos provam que a NED suscitou totalmente e manipulou a pseudo-revolução da praça Tahrir que provocou mais de 4.000 mortos para alçar os Irmãos Muçulmanos ao poder.

Mudar de cobertura
Depois de ter conhecido um sucesso mundial, a retórica da democratização não convence mais. Ao utilizá-la em todas as circunstâncias, o presidente George W. Bush esgotou-a. Ninguém pode seriamente apoiar que as subvenções dispensadas pela NED farão desaparecer o terrorismo internacional. Tanto como não se pode pretender a posteriori que as tropas dos EU teriam deposto Saddam Hussein para oferecer a democracia aos Iraquianos.

Além do mais, os cidadãos que em todo o mundo militam pela democracia tornaram-se desconfiados. Compreenderam que a ajuda oferecida pela NED e os seus pseudópodes visam, na realidade, manipulá-los e armadilhar os seus países. Eles recusam pois, cada vez mais, os «desinteressados» donativos que lhes são propostos. Assim os responsáveis norte-americanos dos diferentes canais de corrupção encararam fazer a mudar o sistema mais uma vez. 

Depois das golpadas completas da CIA e da transparência da NED, eles encaram a criação de uma nova estrutura que faria a substituição de um conjunto desacreditado. Ela não seria mais gerida pelos sindicatos, pelo patronato e os dois grandes partidos, mas por multinacionais de acordo com o modelo da Asia Foundation.

Nos anos 80, a imprensa revelou que esta organização era uma cobertura da CIA para lutar contra o comunismo na Ásia. Ela foi então reformado e a sua gestão foi confiada a multinacionais (Boeing, Chevron, Coca-Cola, Levis Strauss etc….). 

Esta mudança de aparência foi suficiente para dar uma aparência não-governamental e respeitável a uma estrutura que jamais deixou de servir a CIA. Após a dissolução da URSS, Soviética, ela foi copiada com uma outra, a Eurasia Foundation, encarregue de estender a ação secreta aos novos Estados asiáticos.

Uma outra questão discutida é de saber se as doações para a «promoção da democracia» devem assumir, unicamente, a forma de contratos para a realização de projetos específicos, ou a de subvenções sem obrigação de resultado. A primeira fórmula oferece uma melhor cobertura legal, mas a segunda é muito mais eficaz para corromper.

Em vista deste panorama, a exigência de Vladimir Putin e Vladislav Surkov de regulamentar o financiamento das ONGs na Rússia é legítima, mesmo se a burocracia que eles desenvolveram para isso é ultrajante e picuinhas. O dispositivo da NED, posto em marcha sob a autoridade do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, não só não promove os esforços democráticos no mundo mas, pelo contrário, envenena-os.

Thierry Meyssan [Rede Voltaire] -Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations(ed. JP Bertrand, 2007). 

Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores, 2008).

Tradução Alva

[1] « Directive présidentielle 77 (déclassifiée) », Réseau Voltaire, 14 janvier 1983.