Até o momento, facções têm evitado conflito em seus Estados natais, São Paulo e Rio de Janeiro.
Texto de Gil Alessi.
São Paulo - A convulsão em presídios do Brasil, registrada nas últimas semanas, é o sintoma aparente de uma guerra pelo poder no tráfico de drogas no país. No tabuleiro de xadrez desse conflito, os Estados do Norte e Nordeste se encontram na linha de frente da disputa que se estabeleceu entre o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho.
Pichação do Comando Vermelho em Fortaleza. MARÍLIA CAMELO |
Apesar das facções criminosas serem originárias de São Paulo e Rio de Janeiro, onde mantêm seus grandes redutos e de onde comandam o crime de dentro das cadeias, não foram registrados episódios de violência nos presídios do Sudeste.
Roraima e Rondônia, no norte do país, por outro lado, foram palco do primeiro episódio de violência e o único, até o momento, em que houve registro de mortes em presídios dos dois Estados: 18 mortos, a maioria do CV, sendo seis deles decapitados.
A região Norte é fundamental para o tráfico internacional: as principais rotas de droga passam por suas fronteiras, uma vez que estes Estados fazem divisa com grandes países produtores de cocaína, como Peru, Bolívia e Colômbia – além da Venezuela, famosa pela permissividade em suas fronteiras. O controle das cadeias locais estabelece o poder sobre essa atividade. Já no Nordeste ficam alguns dos pontos de escoamento da droga que vai até a África e Europa.
As mortes nos presídios de Roraima e Rondônia foram vistas por especialistas como um marco do rompimento entre as duas organizações. Mas é no Amazonas onde a situação é mais delicada, porque o Estado é a terra natal da Família do Norte (FDN), facção criminosa que, segundo reportagem do portal Ponte, seria responsável pela cisão entre CV e PCC.
A organização amazonense teria se aliado ao grupo fluminense a contragosto dos paulistas, o que teria desencadeado a ruptura. O secretário de Administração penitenciária do Estado, Pedro Florêncio, afirmou que o policiamento foi reforçado nas unidades e que detentos do PCC estão sob vigilância. Ele disse também que presos serão transferidos para prisões neutras como medida preventiva.
Enquanto isso, no Nordeste, Ceará e o Rio Grande do Norte são Estados onde o fim da aliança entre CV e PCC pode ter um impacto concreto nas ruas. Em grande parte das cidades cearenses, incluindo a capital Fortaleza, as facções do Sudeste foram responsáveis pela pacificação das gangues locais nas periferias.
Foi um processo que começou há cerca de um ano, e produziu resultados concretos na redução da violência e dos homicídios nas ruas. No Estado potiguar as facções também foram responsáveis por pacificar as gangues e organizações locais, como o Sindicato do Crime. Com a ruptura do pacto entre CV e PCC a situação se torna instável.
Até o momento nenhum episódio mais grave de violência foi registrado nos presídios fluminenses ou paulistas. Os dois Estados têm respectivamente a primeira e a terceira maior população carcerária do Brasil, e somam mais de 250.000 detentos. Como tanto CV como PCC têm presos considerados importantes para as organizações nos redutos um do outro – e teriam muito a perder em caso de confronto aberto no sistema penitenciário de São Paulo ou do Rio —, até o momento a situação nas cadeias é de apreensão.
No Rio de Janeiro o CV tem o domínio da maior parte dos pontos de venda de droga, mas conta com dois rivais de peso: o Terceiro Comando e o Amigo dos Amigos. De acordo com o jornal Extra, os presos do PCC já pediram transferência para outras unidades, e teriam sido levados para presídios controlados pela ADA, o que levanta a possibilidade de que deste convívio surja uma nova união.
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