terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Cultura - Mostra de Cinema Russo Contemporâneo terá lugar em três cidades do Brasil .

cinema, Brasil, Rússia, entrevista
Foto: facebook.com

A primeira Mostra de Cinema Russo Contemporâneo terá lugar no Rio de Janeiro de 3 a 13 de fevereiro. Depois, o evento acontecerá em Belo Horizonte e São Paulo. Além de 16 filmes, o festival terá palestras e discussões sobre a história e o futuro do cinema russo.

A mostra é organizada pela companhia Ars et Vita, produtora de eventos culturais internacionais, com patrocínio da Caixa Cultural Rio de Janeiro. O foco da mostra são os filmes que marcaram os últimos 25 anos depois do fim da União Soviética e que dão chaves importantes para a compreensão da sociedade e da cultura russas.

Em entrevista à agência Sputnik, Maria Vragova, diretora executiva da Ars et Vita, afirmou que “os brasileiros são muito, muito interessados pela cultura russa e do espaço pós-soviético”.

Vários filmes que serão exibidos explicam o que foi a “época de mudanças”, a perestroika. Um exemplo disso é a trilogia de Serguei Soloviev, três filmes quase ligeiros, mas que tratam vários aspectos da realidade com uma visão séria e poética.

Confira a entrevista completa com Maria Vragova:

– Maria, como surgiu a ideia da mostra, qual é a ideia principal do evento?

– A mostra antes tinha outro nome, “No limite de duas épocas”, mas depois o retiramos, porque não era muito claro para os brasileiros. A ideia não é recente, eu a criei há seis ou sete anos. Foi o projeto que eu levei da Rússia quando cheguei aqui no Brasil, há quatro anos. Mas, por várias razões, não foi possível realizá-lo. Agora, afinal, temos a possibilidade de mostrar estes filmes.

Esta ideia minha eu compartilhei com o meu parceiro da companhia Ars et Vita, que nós fundamos para organizar projetos na área cultural, com o objetivo de ampliar os laços culturais entre o Brasil e os países da Europa Oriental, principalmente a Rússia. Porque eu sou russa, de São Petersburgo. O meu parceiro, Gustavo, é brasileiro, mas esteve na Rússia, estudou no Conservatório.

Não é só cinema contemporâneo: a ideia consiste em mostrar aos brasileiros o cinema russo que eles desconhecem. Sem dúvida, a obra de Sokurov, Eisenstein, Tarkovsky é bem conhecida, mas poucos brasileiros sabem o que acontecia no cinema russo na época daperestroika e nos 25 anos depois da queda da União Soviética. A ideia é essa: mostrar os filmes mais importantes da perestroika e dos anos 1990 e 2000, no espaço pós-soviético, principalmente na Rússia.

– O evento acontece pela primeira vez, mas será anual?

– A nossa mostra é a primeira. Sem dúvida, eu gostaria de vê-la anual, mas isso nem só de mim depende. Nós temos um patrocinador, é a Caixa, e depende também deles.

– O evento que vocês organizam tem conexão com a mostra internacional do Mosfilm, que o consórcio realizou no ano passado por ocasião do seu 90º aniversário?

– Não, não há conexão direta. Aquele foi um projeto do Mosfilm, e só estavam em cartaz filmes do Mosfilm, com motivo do seu aniversário. Mas é claro que nós apoiamos o Mosfilm, e o Mosfilm nos apoia. Nós teremos quatro filmes do Mosfilm. A mostra não só irá acontecer no Rio, senão também em Belo Horizonte, em finais de fevereiro, e um pouco depois ainda, em São Paulo.

– Segundo você, como os brasileiros aceitam a cultura russa? Existe um interesse geral, uma demanda de eventos como este?

– Os brasileiros são muito, muito interessados pela cultura russa, do espaço pós-soviético. Eu realizei vários projetos, não só de cinema, mas também exposições, por exemplo, a exposição do fotógrafo russo Vladimir Lagrange, em maio de 2014, que teve um êxito incrível. O cinema russo tem uma popularidade ainda maior, talvez porque ele seja mais simples para a compreensão. Quando eu criei o grupo no Facebook, em apenas dois dias houve cerca de 1.800 adesões. Eu recebo muitas mensagens cada dia, com perguntas e sugestões. A última semana antes da mostra irá ser, com certeza, ainda mais reveladora neste sentido, mas a semana passada já demostrou o quanto interessante é para os brasileiros.

– Quais foram os critérios de escolha dos filmes para a mostra?

– 16 filmes foram escolhidos, como eu já disse, que, a nosso ver, são os mais importantes do ponto de vista da definição da realidade pós-soviética, da perestroika e da Rússia atual.

Será mostrado o filme “Penitência”, de Tenguiz Abduladze, que foi proibido na União Soviética. Foi filmado em 1984 e só foi mostrado em 1987, graças a uma comissão especial, que permitiu que dezenas de filmes proibidos pela censura fossem mostrados.

O presidente dessa comissão foi o crítico de cinema Andrei Plakhov, que estará presente na mostra e participará da mesa redonda dedicada ao cinema russo e da perestroika.

Será mostrado também o primeiro filme de Karen Shakhnazarov filmado no Mosfilm, “Assassino do Czar”, o primeiro filme russo sobre o assassínio da família real pelos revolucionários.

Também é de destacar a trilogia de Serguei Soloviev, “Assa”, “Rosa Preta – Emblema da Tristeza; Rosa Vermelha – Emblema do Amor” e “A Casa sobre o Céu Estrelado”, que mostra uma “época de mudanças”, que é muito importante para a compreensão do atual cinema russo.

Todos os filmes escolhidos têm um nível artístico muito bom, entre eles há filmes que mostram etapas importantes da evolução da sociedade russa e da vida russa.

– Os filmes só serão mostrados no festival ou o público brasileiro terá mais oportunidades de vê-los?

– Um dos filmes que será mostrado no festival, “O Farol”, da cineasta russo-armênia Maria Saakyan, já foi lançado em DVD durante o festival internacional das artes, na cidade de Tiradentes, que também é organizado pela Ars et Vita juntamente com a companhia Lume, uma das principais distribuidoras do cinema de autor no Brasil.

Agora estou mantendo negociações com o canal Arte 1, que é um canal novo dedicado à cultura e que talvez seja o canal cultural mais importante no Brasil, para, paralelamente com a mostra no Rio, eles mostrarem três filmes desta mesma diretora, pela TV para abranger um público mais amplo. Saakyan também estará presente, com três filmes: “O Farol”, “Essa Não Sou Eu” e “Entropia”.

– O público terá oportunidade de assistir os filmes em português?

– A tradução é realizada por via de legendas, o áudio vem em versão original, em russo. A tradução começou há cinco anos, mas a maior parte foi finalizada nos últimos meses.

– Conte um pouco sobre a sua empresa, por favor. O que é a Ars et Vita?

– Ars et Vita foi organizada em 2010 por mim e Gustavo Carvalho, quando decidimos que seria interessante ampliar os laços culturais entre os nossos países.

Foi dedicada ao projeto do cinema russo, que naquela época não foi realizado. Porém, começamos a fazer outros projetos, por exemplo, exposições como a de Vladimir Lagrange, um dos fotógrafos mais importantes da União Soviética. Também houve uma retrospectiva abrangente do fotógrafo lituano Antanas Sutkas, que teve lugar em 16 cidades do Brasil.

Além disso, a Ars et Vita organiza o Festival Internacional das Artes Vertentes, na cidade de Tiradentes. Neste ano, será a quarta edição deste evento. É um festival que reúne música clássica, literatura, dança, teatro e outras esferas da arte. Cerca de 50 artistas de diversos países estão presentes no evento, que dura 10 dias. E, claro, o festival de cinema, que começa no Rio e vai depois para Belo Horizonte e São Paulo – e claro que eu gostaria abranger outras cidades do Brasil. E apresentar ao público brasileiro outros fotógrafos e artistas.

Neste ano, no museu Óscar Niemeyer terá uma exposição coletiva dedicada à União Soviética e diversos aspectos da vida na URSS. Há muitos projetos, e eu espero que também possamos levar a arte brasileira à Rússia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário