quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Akomabu, primeiro bloco Afro do Maranhão completa 30 anos. Deu na Agência Brasil.

Mariana Tokarnia - Enviada especial da Agência Brasil/ EBC.  Edição: Carolina Pimentel.
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Um grupo de 45 pessoas enroladas em lençóis, tocando instrumentos pintados de branco e manifestando as ideias do movimento negro pelas ruas de São Luís. Assim nasceu o primeiro bloco afro do Maranhão, o Akomabu, que em iorubá, significa a cultura não deve morrer. O bloco completa 30 anos, no dia 3 de março, segunda-feira de carnaval.
Bloco Akomabu
Bloco Akomabu atua no combate ao racismo e valorização da cultura negraWilson Dias/Agência Brasil
Antes do Akomabu, veio o Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN), criado em 1979, com atuação mais política. “Tínhamos as nossas atividades normais durante o ano e, no carnaval, acabávamos nos dispersando, cada um saía em um bloco, em uma escola de samba. Daí, surgiu a proposta de permanecermos juntos e a maneira era criando um bloco”, conta o professor de antropologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e vocalista do grupo, Carlos Benedito Rodrigues, o Carlão Rastafari. 

“O ano de 79 [período da ditadura militar] era uma época de luta por democracia e nós fomos para a rua por democracia, mas além dela, por democracia racial”, diz o médico e primeiro presidente do CCN, Luiz Alves Ferreira. “Um dos nossos instrumentos é a cultura, porque cultura é política, não é só dança ou batuque”. 

Dois anos após a criação, o bloco tinha 200 integrantes. Hoje, são 600 associados. Na bateria, há crianças e adolescentes. O Akomabu congrega dança, música, o tambor e a religião. Antes de todos os ensaios, o ambiente é purificado com incenso. 

Representantes de religiões de matriz africana guardam o local. Nas paredes, estão as figuras de orixás, como Yansã e Oxossi. No sábado, antes do carnaval, o bloco recebe uma bênção de um pai de santo, na própria sede. No dia seguinte, visita um terreiro, a Casa das Minas ou a Casa de Nagô. 

Neste ano, a bênção será na de Nagô, casa onde o bloco recebeu também a primeira bênção. No ensaio, vários cantores se apresentam. Para as crianças, é permitido um intervalo com direito a lanche. Mesmo quem vai apenas para assistir, acaba acompanhando os passos. É a oportunidade de escutar com antecedência as músicas que irão para as ruas. 

As músicas, tocadas pelo Akomabu, são autorais. No início, eram canções típicas de blocos afros baianos e dos tambores de mina maranhense, mas logo as composições passaram a ser próprias. 

O combate à discriminação está nos versos. "Chibata, corrente, pra mim tudo já se quebrou, preconceito e racismo ainda não acabou. Mostre as armas meu pai é preciso lutar pra fome e miséria ter que acabar. Akomabu combatendo o preconceito e o racismo, revela o passado do negro que estava escondido”, diz a letra da música Negro
A música e as batidas atraíram Ana Amélia Bandeira, em 1987. Hoje, ela é uma das coordenadoras do CCN. “Eu vi o bloco na passarela e me apaixonei. No ano seguinte, estava aqui. Vim dançar e já sai na bateria”.

Bloco Akomabu
Primeiro bloco afro do Maranhão, Akomabu completa 30 anos no dia 3 de março Wilson Dias/Agência Brasil

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