A dois dias
da passagem de um ano da violenta ação de reintegração de posse do
Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), conduzida pela Polícia
Militar, 8 mil pessoas continuam sem ter onde morar; documentário
pretende mostrar a realidade dessas famílias; até agora, o governo de
São Paulo ainda não apresentou uma solução.
247 - A manhã da próxima terça-feira,
22 de janeiro, será lembrada por 1,5 mil famílias como um dia de luto.
Fortemente armados, 2 mil policiais militares retiraram, à força, 8 mil
moradores que ali viviam desde 2004, numa das mais violentas ações de
reintegração de posse já realizadas no País. Para marcar a data,
movimentos sociais preparam documentários para mostrar a realidade das
famílias (confira aqui).
Além disso, reportagens demonstram que, um ano depois, as
famílias continuam sem ter onde morar. O terreno do Pinheirinho pertence
à empresa Selecta, do investidor Naji Nahas, e dará origem a um dos
mais luxuosos empreendimentos imobiliários do País.
Confira, abaixo, trecho de reportagem do Estado de S. Paulo:
Pinheirinho: após 1 ano, ninguém ainda tem casa.
Área no interior onde viviam 8 mil pessoas e
ocorreu uma das maiores ações de reintegração de posse do País hoje só
tem mato, cercas e vigias.
WILLIAM CARDOSO - O Estado de S.Paulo.
Há um ano, o Pinheirinho - terreno de 1,3 milhão de metros
quadrados em São José dos Campos - foi palco de uma das maiores ações
de reintegração de posse do País. Mais de 2 mil policiais militares
retiraram da área 8 mil pessoas que viviam ali desde 2004. Não houve
tempo de reação e o "exército" que havia se armado de porretes,
caneleiras de PVC e capacetes de moto foi surpreendido pelo Choque.
Hoje, a área tem apenas mato, cercas e seguranças privados
espalhados para evitar uma nova invasão - a calçada do lado de fora
virou uma minicracolândia. O terreno foi devolvido à massa falida da
empresa Selecta, do investidor Naji Nahas, como ordenou a juíza Márcia
Faria Mathey Loureiro.
A manhã de 22 de janeiro de 2012 mudou a vida de 1.500
famílias. Entre elas, a do cabeleireiro Jaime Rocha do Prado, de 62
anos, ex-coordenador da capela que havia no local.
Sem casa e sem
emprego - ele perdeu o salão dentro Pinheirinho -, Prado dormiu com a
mulher e os filhos no chão da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro,
que recebeu parte dos desabrigados. E ainda sofre com as lembranças.
"Muitas pessoas tiveram crises de ansiedade e depressão. Eu mesmo
engordei 10 quilos."
Correr e cair em meio às bombas e balas de borracha, com a
barriga de 6 meses de gravidez, foi só o prenúncio das dificuldades que
a camareira Charlene da Silva, de 29 anos, e as duas filhas
enfrentariam. "Dormia no meio de pombas mortas, gente usando droga.
Quase perdi meu bebê", diz. Após passar por várias casas, ela hoje mora
em dois cômodos cheios de umidade, por R$ 400 ao mês. "Minha filha
recém-nascida vive doente."
E artigo de Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania:
O massacre do Pinheirinho
No próximo dia 22 de janeiro fará um ano que os governos
tucanos de São José dos Campos e do Estado de São Paulo, aliados a um
setor do Judiciário paulista e a grupos econômicos de propriedade de
notórios corruptos, perpetraram um crime de lesa-humanidade: o Massacre
do Pinheirinho, o qual, tanto tempo depois, continua impune.
Naquela manhã de domingo, após semanas tensas de ameaças
de invasão pela polícia militar, a tragédia se materializou. Milhares de
policiais, munidos de armamento pesado, blindados, helicópteros, enfim,
de um aparato de guerra, invadiram residências e, sob bombas, tiros e
agressões físicas expulsaram famílias inteiras sem permitirem que sequer
pegassem seus objetos pessoais.
O saldo daquela desgraça ordenada por governantes do PSDB
eleitos para trabalharem pela população, além das milhares de famílias
que perderam tudo, foi ao menos uma morte e dezenas de feridos.
Apesar de denúncias da população do Pinheirinho de que
teriam ocorrido várias mortes por ação da polícia militar, apenas uma
dessas mortes foi comprovada.
O aposentado Ivo Teles dos Santos, de 70 anos, revoltou-se com a
invasão e começou a protestar, sendo, em seguida, espancado por
policiais militares.
Após o espancamento, Teles desapareceu. Semanas depois,
foi localizado por sua família no hospital municipal Dr. José Carvalho
de Florence, em São José dos Campos. O idoso deu entrada no hospital no
dia 22 de janeiro, horas depois do massacre.
Teles ficou internado, em coma, até 22 de março, quando
sua filha, Ivanilda Jesus dos Santos, chegou da Bahia para retirá-lo.
Até a morte, diz Ivanilda, o aposentado permaneceu em estado vegetativo,
sem se movimentar nem responder a qualquer estímulo, por conta dos
ferimentos causados pela polícia.
Em 9 de abril, Teles faleceu de falência múltipla de órgãos.
Na semana seguinte ao massacre, este blogueiro foi a São
José dos Campos pela primeira vez, integrando força-tarefa do Condepe
que tomaria os depoimentos de uma população que, além das casas, perdeu
móveis, roupas, dinheiro, veículos, tudo roubado ou destruído pelos
invasores.
A força-tarefa foi integrada, essencialmente, por
jornalistas e advogados, destacados para ouvir e registrar, em ata, as
denúncias da população atingida, a fim de encaminhar tudo ao Ministério
Público.
Voltei pela segunda vez na semana posterior, mas menos
para tomar depoimentos do que para investigar as denúncias de
assassinatos. Conversei com várias pessoas que testemunharam
assassinatos, mas que, temendo represálias da polícia, não aceitaram
depor, de forma que o único assassinato confirmado foi o do aposentado
Ivo Teles dos Santos.
Hoje, próximo ao primeiro aniversário do massacre, a
sociedade brasileira pode ao menos comemorar o fato de que, se a Justiça
não reparou o crime cujo principal responsável foi o então prefeito de
São José dos Campos, Eduardo Cury (PSDB), o povo joseense fez tal
reparação.
Nas eleições municipais do ano passado, o eleitorado
daquela cidade puniu aquele crime de lesa-humanidade, cometido
principalmente pelo PSDB, elegendo o candidato do PT Carlinhos Almeida
no primeiro turno com 50,99% dos votos válidos, contra Alexandre Blanco
(PSDB), que teve 43,15%.
Apesar de a maioria dos cidadãos de São José dos Campos
ter se revoltado com os crimes cometidos pela polícia militar durante a
desocupação do Pinheirinho, crimes como o estupro de moças de uma das
casas invadidas, de ao menos um assassinato comprovado e de roubo de
bens dos moradores da área “desocupada”, até hoje ninguém foi punido.
Próximo de completar um ano daquela barbárie, o Blog da
Cidadania vem exortar autoridades e cidadãos a não se conformarem com
aqueles crimes hediondos, pois esbofeteiam o próprio Estado Democrático
de Direito, sendo insuficiente, para fazer justiça, a defenestração
política do PSDB de São José dos Campos.
Esta matéria foi publicada originalmente em:
SUGERIMOS A LEITURA DESTAS MATÉRIAS RELACIONADAS.
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