Enviado por luisnassif, sex, 28/12/2012 - 13:37
Por Assis Ribeiro
John Lyons e Paul Kiernan | The Wall Street Journal, de Belém.
Valor Econômico - 26/12/2012.
Gigantes da mineração como a Vale SA e a britânica Anglo American PLC
estão se esforçando cada vez mais para extrair minerais da floresta
amazônica brasileira, apostando alto numa das regiões mais remotas e de
meio ambiente mais sensível do mundo.
Ao todo, as mineradoras vão investir cerca de US$ 24 bilhões entre
2012 e 2016 para aumentar a produção de minério de ferro, bauxita e
outros metais encontrados na bacia do Amazonas, segundo o Instituto
Brasileiro de Mineração. O Brasil já recebe hoje um quinto dos
investimentos em mineração no mundo, e a Amazônia representa para muitos
o maior potencial ainda inexplorado do país.
"A Amazônia será a nossa Califórnia", disse Fernando Coura, presidente do Ibram.
A iniciativa das mineradoras na Amazônia se encaixa na estratégia
mais ampla do governo brasileiro de aproveitar os recursos da floresta
para impulsionar o crescimento econômico. A construção de hidrelétricas
nos rios da Amazônia, a melhora das estradas que vão até municípios
distantes e a expansão da rede de energia elétrica também são partes
desse novo avanço sobre a Amazônia. Mudanças na lei e empréstimos do
governo ajudarão a abrir caminho para mais minas na região.
Os ambientalistas receiam que o surto de desenvolvimento possa
acelerar o desmatamento e pressionar as pequenas comunidades da região,
com milhares de trabalhadores das minas sobrecarregando a infraestrutura
e os serviços locais. Já os cientistas dizem que preservar aquela que é
a maior floresta e o maior absorvedor de carbono do mundo é vital para o
equilíbrio do clima do planeta e para a sobrevivência de cerca de um
décimo das suas espécies.
Embora menos árvores precisem ser arrancadas para a mineração na
Amazônia do que para outras atividades, como a pecuária, as estradas
construídas para servir as minas podem acelerar o desmatamento ao
facilitar, por exemplo, que madeireiros clandestinos acessem áreas
remotas.
"As estradas são inimigas das árvores e as minas precisam de
estradas", diz Jared Hardner, que dá consultoria para mineradoras como a
anglo-australiana Rio Tinto PLC, ajudando-as a diminuir o impacto
ambiental dos seus projetos. "O problema da Amazônia é que uma rede de
infraestrutura está sendo instalada cada vez mais dentro da floresta."
Para complicar, alguns investidores dizem que as mineradoras
escolheram a hora errada para deflagrar uma custosa procura pelos
recursos da Amazônia. Depois de anos em alta, os preços do minério de
ferro, da bauxita e de outros metais despencaram devido às incertezas
relacionadas ao crescimento lento da China.
"O mercado não engole essa história de crescimento de longo prazo na
mineração", disse Felipe Gomes, analista da Price WaterhouseCoopers no
Brasil.
Pessoas do setor como Coura, do Ibram, dizem que o mercado tem uma
percepção "míope". Já que pode levar dez anos para colocar uma mina em
operação, as companhias precisam enxergar além dos ciclos do mercado,
dizem executivos da mineração. Os preços do minério de ferro se
recuperaram um pouco nos últimos meses e desenvolver minas de difícil
acesso continua lucrativo. Da mesma forma, A bauxita, que é usada para
fazer alumínio e existe em abundância na Amazônia, vai se manter
lucrativa, dizem eles.
O maior projeto em andamento na Amazônia é de longe a ampliação de
US$ 8,1 bilhões que a Vale está fazendo na sua mina de ferro de Carajás,
no Pará, a qual já é a maior do mundo. Em 20 de novembro, a Vale, maior
produtora de minério de ferro do mundo, recebeu uma licença ambiental
para construir 800 quilômetros de ferrovias na Amazônia, incluindo
duplicações e novos trechos, para fazer frente ao aumento da produção.
A Votorantim anunciou um investimento de R$ 5,6 bilhões numa nova
mina de bauxita no Pará. Os desafios logísticos incluem transportar
grande parte do metal em caminhões por cerca de 600 quilômetros de
estradas às vezes difíceis, disseram executivos.
A Anglo American está estudando um projeto de níquel de US$ 4,7
bilhões que a empresa afirma ter potencial para aumentar
consideravelmente a sua participação de mercado. Grupos de investimento
da China e Coreia do Sul estão procurando possíveis jazidas, disseram
autoridades brasileiras.
Enquanto isso, analistas do setor da mineração dizem que a companhia
britânica pode ter até quatro possíveis candidatos à compra de uma mina
de ferro no Amapá, entre eles a trader de commodities Glencore
International PLC e a produtora de aço russa OAO Severstal.
A Norsk Hydro, gigante norueguesa do petróleo e da mineração, comprou
os ativos de bauxita e alumínio da Vale em 2011, inclusive a terceira
maior mina de bauxita do mundo, situada no Pará.
Mineração na Amazônia não é nenhuma novidade. Os depósitos da Vale na
mina gigante de Carajás foram descobertos nos anos 60. Mas os
investimentos atuais têm uma escala bem maior que antes. E a indústria
deve fazer novos avanços, agora que está sendo criada uma lei para
permitir a mineração em terras indígenas, hoje proibida.
A nova lei da mineração pode aumentar os conflitos que os projetos na Amazônia já causaram entre empresas e comunidades locais.
"O que preocupa são os projetos que estão entrando nas áreas mais
sensíveis", disse Valmir Ortega, diretor no Brasil da Conservation
International, uma ONG ambiental. "Os antecedentes do Brasil no
tratamento das populações locais da Amazônia não são encorajadores."
Edio Lopes, deputado federal pelo PMDB de Roraima e redator do
projeto de lei da mineração, disse ser um mito que "qualquer relação
entre mineradoras e comunidades indígenas é absolutamente prejudicial e
traz prostituição, alcoolismo e doenças". Ele disse que as mineradoras
têm hoje tecnologia suficiente para minimizar o impacto nas áreas
sensíveis.
Executivos das empresas dizem que estão trabalhando para limitar os
impactos ambientais. A americana Alcoa Inc. prometeu replantar a
floresta na sua mina de bauxita de Juriti, no Pará, e seus gerentes
moram no município para ver em primeira mão o impacto que a mina tem lá.
Ainda assim, a Alcoa foi processada pela justiça estadual, que exigiu
um controle mais rigoroso e um estudo mais abrangente do impacto da
mina.
"Acredito que o nosso lado está hoje mais preparado para esse
problema, mas ainda não temos todas as respostas", disse Tito Martins,
diretor-executivo da Votorantim, durante um painel de discussão numa
conferência sobre mineração na Amazônia realizada em novembro.
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