terça-feira, 30 de agosto de 2011

OS SEM-LEITURA Por: Joãozinho Ribeiro

OS SEM-LEITURA 

O Estado do Ceará de há muito vem se destacando no cenário nacional e internacional através de um audacioso programa do Livro e Leitura que, com algumas adaptações e particularidades, vem sendo mantido e ampliado, mesmo com a mudança de coloração partidária na direção do poder executivo daquela unidade federativa. Por nossa conta e conhecimento, destacamos dois projetos deste programa: 

a) Agentes de Leitura; e b) Compra de Livros de Autores Regionais.

O primeiro, premiadíssimo pela UNESCO, envolve várias comunidades carentes, capacitação de jovens e adolescentes, empréstimos de livros, bolsa-trabalho; o segundo, guiado pela meta de aquisição de 5 milhões de exemplares de autores do Nordeste, abrangendo as diversificadas formas de expressão literária: cordel, romance, pesquisa histórica, poesia, reportagem, etc.

A temática do Livro e Leitura escolhida para o presente artigo, infelizmente representa uma tragédia em termos de políticas públicas em nosso estado, escancarada nacionalmente neste último sábado por meio de matéria publicada no jornal Estado de São Paulo, sob o título “Universitários do País lêem de 1 a 4 livros por Ano”. 

Dela, transcrevo três significativos parágrafos, que justificam plenamente o meu a escolha do tema: “Na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), 23,24% dos estudantes não lêem um livro sequer durante o ano. De uma forma geral, a maioria dos universitários brasileiros não vai muito além disso: lê, em média, de uma a quatro obras por ano. É o que revela levantamento exclusivo feito pelo Estado a partir de dados divulgados pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes)”.

“Numa realidade diametralmente oposta, os estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) são ávidos por leitura: 22,98% deles lêem geralmente mais de dez livros por ano. No Maranhão, um dos Estados mais pobres do País, esse índice é de apenas 5,57%”.

“A UFMA, que lidera o ranking dos universitários que não lêem nada, ficou em quarto lugar entre os menos assíduos à biblioteca da universidade – 28,5% dos graduandos não a freqüentam. O primeiro lugar nesse quesito ficou com a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio): metade de seus alunos esnoba o espaço”.

Sem uma política integrada, pelos entes federados - União, Estado e Municípios - pelas Instituições de Ensino Superiores, rede de bibliotecas públicas e comunitárias e, principalmente, pelas áreas da Cultura, Educação, Trabalho e Desenvolvimento Social, todas as ações governamentais, por mais bem intencionadas que sejam, nunca irão passar de arranjos cosméticos e pontuais, ou de simples esparadrapos tentando tapar a terrível chaga do analfabetismo cultural, vinculado ao vergonhoso déficit de leitura em terras de Gonçalves Dias e tantos outros ícones da literatura brasileira.

Com saberes e falares totalmente diferentes, dois poetas de formação e origens díspares, Maranhão e Rio Grande do Sul, talvez tenham traduzido esta situação, por meio de versos e palavras que neste momento permanecem muito vivas, latejando em nossas memórias:

JOÃO DO VALE: “O negócio não é bem eu / é Mané, Pedro e Romão / que também foi meus colega / e continuam no sertão / não puderam estudar / nem sabem fazer baião”.

MÁRIO QUINTANA: “O pior analfabeto não é aquele que não sabe ler; mas aquele que sabendo se recusa a fazê-lo”.

Feiras e Salões de Livro, Cafés Literários, Livro na Praça, semanas do livro durante as celebrações e comemorações de datas dos calendários oficiais nas escolas, etc. acabam virando arremedo de políticas públicas e o espaço de suas abrangências não inclui novos atores e protagonistas, nem impede o fechamento das pouquíssimas livrarias que ainda resistem ao sufoco da concorrência desleal do comércio eletrônico, das novas tecnologias digitais e da falta de crédito e financiamento da cadeia produtiva dos micro e pequenos empresários deste importante segmento da economia da cultura.

O triste e cruel exemplo desta tragédia literária foi o fechamento acerca de três semanas da Livraria Athenas, situada na Rua do Sol, dirigida por 20 anos pelo amigo e micro empresário Arteiro, que com abnegação e muitos prejuízos tentou mantê-la até onde lhe permitiram os limites da sobrevivência humana e empresarial.

Para um Estado que atingiu níveis de analfabetismo crônicos e estarrecedores, que já não podem ser substituídos por mirabolantes e enganosos programas de capacitação e profissionalização, esta questão do Livro e Leitura é crucial e deve ter o início do seu enfrentamento realizado a partir das salas de aulas do ensino fundamental. Quem não adquiriu o gosto pela leitura na infância e na adolescência, dificilmente o fará na idade adulta.

Felizmente, a semana pelo menos não fecha somente com o noticiário destas nossas mazelas livrescas e com saldo totalmente negativo. Meu compadre de ofício literário e também colunista do JP, Herbert Santos, fez bonito na Capital Federal, mais precisamente no espaço privilegiado da Livraria Cultura, o lançamento simultâneo de seis obras literárias de sua lavra original, com a presença de intelectuais renomados, como é o caso do também maranhense Rossini Correa, e outras importantes personalidades do mundo literário brasiliense.

Joãozinho Ribeiro escreve para o Jornal Pequeno às segundas-feiras.

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